quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Fotos do Lançamento do Calendário - Café Book

Somos gratas a todos os amigos que compareceram na Livraria Café Book!
O nosso muito obrigado!
Seguem as fotos do lançamento de nosso calendário 2011.
Vejam alguns de nossos momentos felizes!
Agradecemos a amiga Regina, por este registro.









segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Convite para o Lançamento do Calendário

Um Ano de Contos de Fadas, este é o tema que trabalhamos, uma verdadeira obra de arte realizada por doze bordadeiras do Ateliê de Arte Terapia Caminho dos Sonhos.
***

Data: 10 de Novembro de 2010 - Quarta feira.
Horas: à partir das 18:30hs
Local: Livraria Café Book - Rua Padre Rolim, 616 - Funcionários
(esquina da Av. Brasil com a rua Ceará. Fica a um quarteirão da feira das flores)

Contamos com a sua presença!

Branca de Neve

Um dia, a rainha de um reino bem distante bordava perto da janela do castelo, uma grande janela com batentes de ébano, uma madeira escuríssima. Era inverno e nevava muito forte.
A certa altura, a rainha desviou o olhar para admirar os flocos de neve que dançavam no ar; mas com isso se distraiu e furou o dedo com a agulha.
Na neve que tinha caído no beiral da janela pingaram três gotinhas de sangue. O contraste foi tão lindo que a rainha murmurou:
— Pudesse eu ter uma menina branquinha como a neve, corada como sangue e com os cabelos negros como o ébano…
Alguns meses depois, o desejo da rainha foi atendido.
Ela deu à luz uma menina de cabelos bem pretos, pele branca e face rosada. O nome dado à princesinha foi Branca de Neve.
Mas quando nasceu a menina, a rainha morreu. Passado um ano, o rei se casou novamente. Sua esposa era lindíssima, mas muito vaidosa, invejosa e cruel.
Um certo feiticeiro lhe dera um espelho mágico, ao qual todos os dias ela perguntava, com vaidade:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.
E o espelho respondia:
— Em todo o mundo, minha querida rainha, não existe beleza maior.
O tempo passou. Branca de Neve cresceu, a cada ano mais linda…
E um dia o espelho deu outra resposta à rainha.
— A sua enteada, Branca de Neve, é agora a mais bela.
Invejosa e ciumenta, a rainha chamou um de seus guardas e lhe ordenou que levasse a enteada para a floresta e lá a matasse. E que trouxesse o coração de Branca de Neve, como prova de que a missão fora cumprida.
O guarda obedeceu. Mas, quando chegou à mata, não teve coragem de enfiar a faca naquela jovem inocente que nunca fizera mal a ninguém.
Deixou-a fugir. Para enganar a rainha, matou um veadinho, tirou o coração e entregou-o a ela, que quase explodiu de alegria e satisfação.
Enquanto isso, Branca de Neve fugia, penetrando cada vez mais na mata, ansiosa por se distanciar da madrasta e da morte.
Os animais chegavam bem perto, sem a atacar; os galhos das árvores se abriam para que ela passasse.
Ao anoitecer, quando já não se agüentava mais em pé de tanto cansaço, Branca de Neve viu numa clareira uma casa bem pequena e entrou para descansar um pouquinho.
Olhou em volta e ficou admirada: havia uma mesinha posta com minúsculos sete pratinhos, sete copinhos, sete colherezinhas e sete garfinhos. No cômodo superior estavam alinhadas sete caminhas, com cobertas muito brancas.
Branca de Neve estava com fome e sede. Experimentou, então uma colher da sopa de cada pratinho, tomou um gole do vinho de cada copinho e deitou-se em cada caminha, até encontrar a mais confortável. Nela se ajeitou e dormiu profundamente.
Os donos da casa voltaram tarde da noite; eram sete anões que trabalhavam numa mina de diamantes, dentro da montanha.
Logo que entraram, viram que faltava um pouco de sopa nos pratos, que os copos não estavam cheios de vinho… Estranho.
Lá em cima, nas camas, as cobertas estavam mexidas… E na última cama — surpresa maior! — estava adormecida uma linda moça de cabelos pretos, pele branca como a neve e face vermelha como o sangue.
— Como é linda! — murmuraram em coro.
— E como deve estar cansada — disse um deles —, já que dorme assim.
Decidiram não incomodar; o anão dono da caminha onde dormia a donzela passaria a noite numa poltrona.
Na manhã seguinte, quando despertou, Branca de Neve se viu cercada pelos sete anões barbudinhos e se assustou. Mas eles logo a acalmaram, dizendo-lhe que era muito bem-vinda.
— Como se chama? — perguntaram.
— Branca de Neve.
— Mas como você chegou até aqui, tão longe, no coração da floresta?
Branca de Neve contou tudo. Falou da crueldade da madrasta, da sua ordem para matá-la, da piedade do caçador que a deixara fugir, desobedecendo à rainha, e de sua caminhada pela mata até encontrar aquela casinha.
— Fique aqui, se gostar… — propôs o anão mais velho.
— Você poderia cuidar da casa, enquanto nós estamos na mina, trabalhando. Mas tome cuidado enquanto estiver sozinha. Cedo ou tarde, sua madrasta descobrirá onde você está, e se ela a encontrar… Não deixe que ninguém entre! É mais seguro.
Assim começou uma vida nova para Branca de Neve, uma vida de trabalho.
E a madrasta? Estava feliz, convencida de que beleza de mulher alguma superava a sua.
Mas, um dia, teve por acaso a idéia de interrogar o espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.
E o espelho respondeu com voz grave:
— Na mata, na casa dos anões, querida rainha, está Branca de Neve, mais bela que nunca!
A rainha entendeu que tinha sido enganada pelo guarda: Branca de Neve ainda vivia! Resolveu agir por si mesma, para que não houvesse no mundo inteiro mulher mais linda do que ela.
Pintou o rosto, colocou um lenço na cabeça e irreconhecível, disfarçada de velha mercadora, procurou pela mata a casinha dos anões. Quando achou, bateu à porta e Branca de Neve, ingenuamente, foi atender.
A malvada ofereceu-lhe suas mercadorias, e a princesa apreciou um lindo cinto colorido.
— Deixe-me ajudá-la a experimentar o cinto. Você ficará com uma cintura fininha, fininha — disse a falsa vendedora, com uma risada irônica e estridente, apertando cada vez mais o cinto.
E apertou tanto, tanto, que Branca de Neve se sentiu sufocada e desmaiou, caindo como morta. A madrasta fugiu.
Pouco depois, chegaram os anões. Assustaram-se ao ver Branca de Neve estirada e imóvel.
O anão mais jovem percebeu o cinto apertado demais e imediatamente o cortou. Branca de Neve voltou a respirar e a cor, aos poucos, começou a voltar a sua face; melhorou e pôde contar o ocorrido.
— Aquela velha vendedora ambulante era a rainha disfarçada — disseram logo os anões.
— Você não deveria tê-la deixado entrar. Agora, seja mais prudente.
Enquanto isso, a perversa rainha, já no castelo, consultava o espelho mágico e se surpreendeu ao ouvi-lo dizer:
— No bosque, na casa dos anões, minha querida rainha, há Branca de Neve, mais bela que nunca.
Seu plano fracassara! Tentaria novamente.
No dia seguinte, Branca de Neve viu chegar uma camponesa de aspecto gentil, que lhe colocou na janela uma apetitosa maçã, sem dizer nada, apenas sorrindo um sorriso desdentado. A princesinha nem suspeitou de que se tratava da madrasta. Ingênua e gulosa, mordeu a maçã. Antes de engolir a primeira mordida, caiu imóvel.
Dessa vez, devia estar morta, pois o socorro dado pelos anões, quando regressaram da mina, nada resolveu.
Não acharam cinto apertado, nem ferimento algum, apenas o corpo caído.
Branca de Neve parecia dormir; estava tão linda que os bons anõezinhos não quiseram enterrá-la.
— Vamos construir um caixão de cristal para a nossa Branca de Neve, assim poderemos admirá-la sempre.
O esquife de cristal foi construído e levado ao topo da montanha. Na tampa, em dourado, escreveram: “Branca de Neve, filha de um rei”.
Os anões guardavam o caixão dia e noite, e também os animaizinhos da mata – veadinhos, esquilos e lebres —todos choravam por Branca de Neve.
Lá no castelo, a malvada rainha interrogava o espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.
A resposta era invariável.
— Em todo o mundo, não existe beleza maior.
Branca de Neve parecia dormir no caixão de cristal; o rosto branco como a neve e de lábios vermelho como sangue, emoldurado pelos cabelos negros como ébano. Continuava tão linda como enquanto vivia.
Um dia, um jovem príncipe que caçava por ali passou no topo da montanha; bastou ver Branca de Neve para se apaixonar. Pediu permissão aos anões para levar consigo o caixão de cristal. Havia tanta paixão, tanta dor e tanto desespero na voz do príncipe, que os anões ficaram comovidos e consentiram.
— Está bem. Nós o ajudaremos a transportá-la para o vale. Branca de Neve será sua.
Com o caixão nas costas, puseram-se a caminho.
Enquanto desciam por um caminho íngreme, um anão tropeçou numa pedra e quase caiu. Reequilibrou-se a tempo.
O abalo do caixão, porém, fez com que o pedaço da maçã envenenada, que Branca de Neve trazia ainda na boca, caísse. Assim ela se reanimou. Abrindo os olhos e suspirando se sentou e, admirada, quis saber:
— O que aconteceu? Onde estou?
O príncipe e os anões, felizes, explicaram tudo.
O príncipe declarou-se a Branca de Neve e pediu-a em casamento. Branca de Neve aceitou, muito feliz.
Foram para o palácio real, onde toda a corte os recebeu.
Foram distribuídos os convites para a cerimônia nupcial. Entre os convidados estava a rainha madrasta — mas ela mal sabia que a noiva era sua enteada. Vestiu-se a megera suntuosamente, pôs muitas jóias e, antes de sair, interrogou o espelho mágico:
— Espelho, espelho meu, diga-me se há no mundo mulher mais bela do que eu.
E o fiel espelho:
— No seu reino, a mais bela é você; mas a noiva Branca de Neve é a mais bela do mundo.
Louca de raiva, a rainha saiu apressada para a cerimônia. Lá chegando, ao ver Branca de Neve, sofreu um ataque: o coração explodiu e o corpo estourou, tamanha era sua ira.
Mas os festejos não cessaram um só instante. E os anões, convidados de honra, comeram, cantaram e dançaram três dias e três noites. Depois, retornaram para sua casinha e sua mina, no coração da mata.
E Branca de neve e o Príncipe foram felizes para sempre!
Autor: Perrault


Os Três Porquinhos



Certa vez havia uma porca que teve três porquinhos. Ela estava velha e não tinha como sustentar a ninhada, então mandou que partissem em busca da sorte.
O primeiro porquinho andou, andou até que encontrou um homem que carregava um feixe de palha, e disse a ele:
“Por favor, camponês, me dê um tanto dessa palha para que eu possa construir minha casinha.”
O camponês, que tinha bom coração, assim o fez, entregando-lhe uma boa quantidade de palha. O porquinho não perdeu tempo e logo sua casa estava pronta. Porém, também logo veio um lobo, que bateu à porta e falou:
“Porquinho, porquinho, deixe-me entrar.”
Ouvindo isso o porquinho respondeu: “Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.”
O lobo sem se deixar abalar com a resposta, retrucou: “Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”
E soprou, bufou, e a casa foi pelos ares. O porquinho no entanto, era rápido, e saiu correndo para dentro da mata, tão depressa que, por mais que tentasse, o lobo não conseguiu capturá-lo.
O segundo porquinho encontrou um homem com um feixe de gravetos e disse:
“Por favor, meu bom homem, me dê um tanto desses gravetos para que eu possa construir a minha casinha.”
O homem assim o fez e o porquinho, mais do que depressa, construiu a sua casinha.
Mas não tardou e o lobo apareceu e disse: “Porquinho, porquinho, deixe-me entrar”.
“Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.” “Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”
E soprou, soprou, bufou, bufou, e a casa foi pelos ares. Mas tal como seu irmão, esse porquinho também era ágil, ou essa agilidade era apenas o instinto natural de sobrevivência? Não sei, o que sei é que ele correu feito um louco pra dentro da floresta e o lobo mais uma vez não pode encher a barriga com os porquinhos dessa família!
O terceiro porquinho vinha andando pelo seu caminho quando encontrou um homem que fabricava tijolos, e disse:
“Por favor, meu bom homem, me dê um tanto desses tijolos para que eu possa construir a minha casinha.”
O homem tinha sobrando e de bom grado deu muitos tijolos para o porquinho. Satisfeito, o porquinho estava tratando de reunir todo material que ganhara quando surgiram da mata seus dois irmãos, chorando, traumatizados.
“O que aconteceu irmãozinhos”, perguntou-lhe, “porque tanta tristeza?”
E os dois infelizes relataram tudo que tinha lhes acontecido, o lobo, suas casas destruídas e a intenção do lobo de fazer deles o seu almoço.
“Não se preocupem mais irmãos, tenho tijolos, este material é mais forte, sólido, vamos fazer nossa casinha com eles, e essa o lobo não poderá destruir!”
Sem perda de tempo trataram de construir sua sólida casinha. Não tardou e o lobo apareceu outra vez, e tal como fizera com os outros dois porquinhos, disse:
“Porquinho, porquinho, deixe-me entrar”.
“Não, não, pelos fios de minha barba, aqui você não vai entrar.” “Então vou soprar, e vou bufar, e vou sua casa arrebentar.”
E ele soprou, soprou e bufou, e soprou, e bufou, e bufou, e bufou, e soprou, e soprou mais ainda, até ficar roxo e perder o fôlego, mas a casa não caiu. Então ele percebeu que essa casa era mais forte e que por mais que soprasse não conseguiria destruí-la. Pôs a cabeça para funcionar e teve uma ideia, e disse:
“Porquinho, quero ser seu amigo, e para provar ofereço-me a mostrar-lhe onde há um magnífico campo de nabos.”
“Onde fica esse campo?” Perguntou o porquinho.
“Oh, nas terras do Sr. Jacó, e se estiver pronto amanhã de manhã virei buscá-lo; poderemos ir juntos colher nabos e nos divertir bastante.”
“Esta bem”, respondeu o porquinho, “está combinado. A que horas vai passar por aqui?”
“Oh, as seis em ponto, está bem?”
O porquinho levantou às cinco da manhã, disse para seus irmãos ficarem bem quietos escondidos em casa, e foi para o campo dos nabos, chegando antes do lobo. Lá pegou tudo que queria e voltou correndo para casa, onde se trancou bem.
Às seis em ponto o lobo bateu na porta dos porquinhos:
“Porquinho (o lobo não sabia que os dois sobreviventes estavam lá!), está pronto?”
O porquinho respondeu: “Pronto? Já fui e já voltei, e tenho uma panela repleta de nabos para o jantar.”
O lobo ficou furioso, mas não ia desistir assim tão fácil, e disse: “Porquinho, conheço um lugar repleto de macieiras carregadinhas.”
“Onde?”, perguntou o porquinho.
“Lá na clareira do lago”, respondeu o lobo. “E se não me enganar virei buscá-lo amanhã, às cinco horas, para colhermos algumas maçãs.”
Na manhã seguinte o porquinho levantou às quatro horas, vestiu-se e foi para a clareira do lago colher as maçãs, esperando fazer a mesma coisa do dia anterior, mas a clareira era mais longe, e ele teve que subir nas árvores para colher as maçãs. Então, bem na hora em que ia descer da última árvore com um saco cheinho de maçãs, viu o lobo se aproximar e ficou apavorado. E agora, o que fazer?
O lobo chegou e disse:
“Você gosta de levantar cedo, não é porquinho? Chegou antes de mim? Como estão as maçãs, estão doces?”
“Estão ótimas”, disse o porquinho, vou lhe jogar uma,” e jogou uma linda maçã o mais longe que pode. O lobo guloso correu para apanhá-la, e o porquinho por sua vez saltou para o chão e correu o mais rápido que pode até sua casa, trancando muito bem todas as portas e janelas.
No dia seguinte lá estava o lobo outra vez, mas agora muito zangado. Falou:
“Porquinho, perdi a paciência com você. Não vou esperar mais, vou entrar pela chaminé e devorá-lo, assim como fiz com seus irmãos!”
“Mentiroso!” gritou o porquinho, “você não é de nada, não devorou meus irmãos, eles estão aqui comigo!”
E os dois irmãos gritaram de dentro da casa para que o lobo pudesse ouvi-los. Enquanto isso o porquinho esperto pendurou um caldeirão cheio d’água na lareira acessa com um fogo bem alto. O lobo, cada vez mais furioso, começou a descer pela chaminé, e estava tão cego de ódio que nem viu a panela e caiu dentro dela. O porquinho rapidamente colocou a tampa, o lobo ficou preso e morreu escaldado.
E os três irmãozinhos viveram felizes na casa de tijolos.
Autor: Conto Inglês


Rapunzel



Era uma vez um casal que há muito tempo desejava em vão ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes.
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se assustou e perguntou:
— O que está acontecendo com você, querida?
— Ah! — respondeu ela. — Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada, que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus rabanetes? — perguntou ela com os olhos chispando de raiva. — Vai ver só o que o espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
— Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta. A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Jogue abaixo suas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora. As tranças caíam até o chão, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado. Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: “Rapunzel, Rapunzel! Jogue abaixo suas tranças!”. E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
“É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe. “Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Jogue abaixo suas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem. Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse. Rapunzel foi se acalmando, e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo, e pensou: “Ele é mil vezes preferível à velha senhora…”. E, pondo a mão dela sobre a dele, respondeu:
— Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como descer… Sempre que vier me ver, traga uma meada de seda. Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu desço e você me leva no seu cavalo.
Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite, porque a velha costumava vir durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel, sem querer, perguntou a ela:
— Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho?
— Ah, menina ruim! — gritou a feiticeira. — Pensei que tinha isolado você do mundo, e você me engana!
Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelo cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! cortou as belas tranças, largando-as no chão. Não contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e abandonou-a ali, para que sofresse e passasse todo tipo de privação.
Na tarde do mesmo dia em que Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou: “Rapunzel! Rapunzel! Jogue abaixo suas tranças!”, ela deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando.
Ao entrar, o pobre rapaz não encontrou sua querida Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar chamejante de ódio, ela gritou zombeteira:
— Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda avezinha não está mais no ninho, nem canta mais! O gato apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos! Nunca mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você!
Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele ficou cego. Desesperado, ficou perambulando pela floresta, alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa que se lamentar e chorar a perda da amada.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na maior tristeza, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina, que haviam nascido ali. Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direção de Rapunzel. Assim que chegou perto, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços, a chorar. Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe recuperou a visão e ficou enxergando tão bem quanto antes.
Então, levou Rapunzel e as crianças para seu reino, onde foram recebidos com grande alegria. Ali viveram felizes e contentes.
Autor: Irmãos Grimm


Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez, numa pequena cidade às margens da floresta, uma menina de olhos negros e louros cabelos cacheados, tão graciosa quanto corajosa.
Um dia, com um retalho de tecido vermelho, sua mãe costurou para ela uma curta capa com capuz; ficou uma belezinha, combinando muito bem com os cabelos louros e os olhos negros da menina.
Daquele dia em diante, a menina não quis mais saber de vestir outra roupa, senão aquela e, com o tempo, os moradores da vila passaram a chamá-la de “Chapeuzinho Vermelho”.
Além da mãe, Chapeuzinho Vermelho não tinha outros parentes, a não ser uma avó bem velhinha, que nem conseguia mais sair de casa. Morava numa casinha, no interior da mata.
De vez em quando ia lá visitá-la com sua mãe, e sempre levavam alguns mantimentos.
Um dia, a mãe da menina preparou algumas broas das quais a avó gostava muito. Quando a mãe acabou de assar as broas, chamou a filha:
— Chapeuzinho Vermelho, vá levar estas broinhas para a vovó, ela gostará muito. Disseram-me que há alguns dias ela não passa bem e, com certeza, não tem vontade de cozinhar.
— Vou agora mesmo, mamãe.
— Tome cuidado, não pare para conversar com ninguém e vá direitinho, sem desviar do caminho certo. Há muitos perigos na floresta!
— Tomarei cuidado, mamãe, não se preocupe!
A mãe arrumou as broas em um cesto e colocou também um pote de geléia e um tablete de manteiga. A vovó gostava de comer as broinhas com manteiga fresquinha e geléia.
Chapeuzinho Vermelho pegou o cesto e foi embora. A mata era cerrada e escura. No meio das árvores somente se ouvia o chilrear de alguns pássaros e, ao longe, o ruído dos machados dos lenhadores.
A menina ia por uma trilha quando, de repente, apareceu-lhe na frente um lobo enorme, de pêlo escuro e olhos brilhantes.
Olhando para aquela linda menina, o lobo pensou que ela devia ser macia e saborosa. Queria mesmo devorá-la num bocado só. Mas não teve coragem, temendo os cortadores de lenha que poderiam ouvir os gritos da vítima. Por isso, decidiu usar de astúcia.
— Bom dia, linda menina — disse com voz doce.
— Bom dia — respondeu Chapeuzinho Vermelho.
— Qual é seu nome?
— Chapeuzinho Vermelho.
— Um nome bem certinho para você. Mas diga-me, Chapeuzinho Vermelho, onde está indo assim tão só?
— Vou visitar minha avó, que não está muito bem de saúde. Estou levando broinhas feitas em casa, um vidro de geléia e manteiga fresca.
— Muito bem! E onde mora sua avó?
— Mais além, no interior da mata.
— Explique melhor, Chapeuzinho Vermelho.
— Numa casinha com as venezianas verdes, logo após o velho engenho de açúcar.
O lobo teve uma idéia e propôs:
— Gostaria de ir também visitar sua avó doente. Vamos fazer uma aposta, para ver quem chega primeiro. Eu irei por aquele atalho lá abaixo, e você poderá seguir por este.
Chapeuzinho Vermelho aceitou a proposta.
— Um, dois, três, e já! — gritou o lobo.
Conhecendo a floresta tão bem quanto seu nariz, o lobo escolhera para ele o trajeto mais breve, e não demorou muito para alcançar a casinha da vovó.
Bateu à porta o mais delicadamente possível, com suas enormes patas.
— Quem é? — perguntou a avó.
O lobo fez uma vozinha doce, doce, para responder:
— Sou eu, sua netinha, vovó. Trago broas feitas em casa, um vidro de geléia e manteiga fresca.
A boa velhinha, que ainda estava deitada, respondeu:
— Puxe a tranca, e a porta se abrirá.
O lobo entrou, chegou ao meio do quarto com um só pulo e devorou a pobre vovozinha, antes que ela pudesse gritar.
Em seguida, fechou a porta. Enfiou-se embaixo das cobertas e ficou à espera de Chapeuzinho Vermelho.
A essa altura, Chapeuzinho Vermelho já tinha esquecido do lobo e da aposta sobre quem chegaria primeiro. Ia andando devagar pelo atalho, parando aqui e acolá: ora era atraída por uma árvore carregada de pitangas, ora ficava observando o vôo de uma borboleta, ou ainda um ágil esquilo. Parou um pouco para colher um maço de flores do campo, encantou-se a observar uma procissão de formigas e correu atrás de uma joaninha.
Finalmente, chegou à casa da vovó e bateu de leve na porta.
— Quem está aí? — perguntou o lobo, esquecendo de disfarçar a voz.
Chapeuzinho Vermelho se espantou um pouco com a voz rouca, mas pensou que fosse porque a vovó ainda estava gripada.
— É Chapeuzinho Vermelho, sua netinha. Estou trazendo broinhas, um pote de geléia e manteiga bem fresquinha!
Mas aí o lobo se lembrou de afinar a voz cavernosa antes de responder:
— Puxe o trinco, e a porta se abrirá.
Chapeuzinho Vermelho puxou o trinco e abriu a porta. O lobo estava escondido, embaixo das cobertas, só deixando aparecer a touca que a vovó usava para dormir.
— Coloque as broinhas, a geléia e a manteiga no armário, minha querida netinha, e venha aqui até a minha cama. Tenho muito frio, e você me ajudará a me aquecer um pouquinho.
Chapeuzinho Vermelho obedeceu e se enfiou embaixo das cobertas. Mas estranhou o aspecto da avó. Antes de tudo, estava muito peluda! Seria efeito da doença? E foi reparando:
— Oh, vovozinha, que braços longos você tem!
— São para abraçá-la melhor, minha querida menina!
— Oh, vovozinha, que olhos grandes você tem!
— São para enxergar também no escuro, minha menina!
— Oh, vovozinha, que orelhas compridas você tem!
— São para ouvir tudo, queridinha!
— Oh, vovozinha, que boca enorme você tem!
— É para engolir você melhor!!!
Assim dizendo, o lobo mau deu um pulo e, num movimento só, comeu a pobre Chapeuzinho Vermelho.
— Agora estou realmente satisfeito — resmungou o lobo. Estou até com vontade de tirar uma soneca, antes de retomar meu caminho.
Voltou a se enfiar embaixo das cobertas, bem quentinho. Fechou os olhos e, depois de alguns minutos, já roncava. E como roncava! Uma britadeira teria feito menos barulho.
Algumas horas mais tarde, um caçador passou em frente à casa da vovó, ouviu o barulho e pensou: “Olha só como a velhinha ronca! Estará passando mal!? Vou dar uma espiada.”
Abriu a porta, chegou perto da cama e… quem ele viu?
O lobo, que dormia como uma pedra, com uma enorme barriga parecendo um grande balão!
O caçador ficou bem satisfeito. Há muito tempo estava procurando esse lobo, que já matara muitas ovelhas e cabritinhos.
— Afinal você está aqui, velho malandro! Sua carreira terminou. Já vai ver!
Enfiou os cartuchos na espingarda e estava pronto para atirar, mas então lhe pareceu que a barriga do lobo estava se mexendo e pensou: “Aposto que este danado comeu a vovó, sem nem ter o trabalho de mastigá-la! Se foi isso, talvez eu ainda possa ajudar!”
Guardou a espingarda, pegou a tesoura e, bem devagar, bem de leve, começou a cortar a barriga do lobo ainda adormecido.
Na primeira tesourada, apareceu um pedaço de pano vermelho, na segunda, uma cabecinha loura, na terceira, Chapeuzinho Vermelho pulou fora.
— Obrigada, senhor caçador, agradeço muito por ter me libertado. Estava tão apertado lá dentro, e tão escuro… Faça outro pequeno corte, por favor, assim poderá libertar minha avó, que o lobo comeu antes de mim.
O caçador recomeçou seu trabalho com a tesoura, e da barriga do lobo saiu também a vovó, um pouco estonteada, meio sufocada, mas viva.
— E agora? — perguntou o caçador. — Temos de castigar esse bicho como ele merece!
Chapeuzinho Vermelho foi correndo até a beira do córrego e apanhou uma grande quantidade de pedras redondas e lisas. Entregou-as ao caçador que arrumou tudo bem direitinho, dentro da barriga do lobo, antes de costurar os cortes que havia feito.
Em seguida, os três saíram da casa, se esconderam entre as árvores e aguardaram.
Mais tarde, o lobo acordou com um peso estranho no estômago. Teria sido indigesta a vovó? Pulou da cama e foi beber água no córrego, mas as pedras pesavam tanto que, quando se abaixou, ele caiu na água e ficou preso no fundo, onde afogou.
O caçador foi embora contente e a vovó comeu com gosto as broinhas.
Autor: Perrault

Aladim


— Aladim! Aladim! Venha para casa! — gritava o pai o dia inteiro, chamando o menino que não saía da rua.
Mas Aladim só pensava em brincar com os outros garotos e pouca atenção prestava ao pai, que era velho e doente.
O pai morreu, mas a vida de Aladim continuou a mesma. Passava o tempo todo nas ruas brincando com os amigos. Foi assim até o dia em que um homem estranho se dirigiu a ele, dizendo:
— Você é Aladim, o filho do alfaiate?
— Sim, sou eu, mas meu pai morreu — espantou-se o garoto. E surpreendido ficou quando o estranho começou a lamentar-se:
— Pobre do meu irmão! Eu que vim da África para revê-lo. Meu sobrinho querido, abrace o irmão do seu pobre pai.
O desconhecido continuou contando a Aladim que se ocuparia dele e lhe daria muitas riquezas. O rapaz estava quase para responder que preferia continuar brincando com os amigos, quando o desconhecido se despediu, dizendo que iria falar com a mãe de Aladim no dia seguinte.
De fato, o desconhecido apareceu na casa da mãe de Aladim, deu-lhe algumas moedas de ouro e explicou quem era, acrescentando:
— Sou muito rico e não tenho filhos, quero educar Aladim para ser meu herdeiro. Preciso apenas de seu consentimento para levá-lo comigo.
— Que estranho! Meu marido nunca falou em nenhum irmão…
— Isso deve ser porque sempre vivemos um longe do outro — disse o homem. — Gostaria de voltar para minha terra levando meu sobrinho comigo.
Aladim não estava com vontade de viajar com o tio, pois preferia brincar na rua com os amigos. A mãe, porém, considerava o oferecimento do cunhado como uma grande oportunidade, por isso aconselhou o filho a ir e melhorar de vida. Aladim partiu com o tio.
Viajaram sem parar até chegarem a uma grande floresta junto a uma montanha. Aladim sentia-se muito cansado, mas, quando quis repousar, o tio ordenou-lhe:
— Vá apanhar lenha para acender o fogo e eu mostrarei a você coisas maravilhosas.
— Que coisas? — indagou o rapaz, que não estava com muita vontade de ir buscar a lenha.
— Chega de perguntas! Vá depressa buscar a lenha. Fique sabendo que não sou seu tio, sou um poderoso mago africano. Se você não obedecer, transformo-o num pedaço de madeira para fazer fogo.
Ao ouvir aquelas palavras, Aladim, que já estava desconfiado de que o homem não era mesmo seu tio, assustou-se e saiu correndo em busca da lenha.
Voltou em seguida e acendeu um grande fogo. Assim que as chamas subiram, o mago aproximou-se o mais possível do fogo e pronunciou em voz alta palavras misteriosas.
Conforme o mago falou, no lugar do fogo apareceu uma grande pedra com uma argola de ferro. Mesmo assustado, Aladim não pôde deixar de perguntar:
— Como fez isso, mago?
— Segredo profissional, meu filho. Esta pedra esconde a entrada de um subterrâneo cheio de riquezas. Se você descer lá, pode apanhar o que quiser. Para mim, traga uma velha lâmpada que encontrará no chão.
O rapaz puxou a pedra pela argola e ela se moveu facilmente. Embaixo havia um buraco e uma escada.
Mas Aladim se mostrava muito assustado e sem vontade de descer. O mago lhe deu um anel mágico, dizendo que era para protegê-lo, e acrescentou:
— Não tenha medo, Aladim; li nos livros mágicos que você é o único ser humano que pode descer nessa caverna.
Aladim começou a descer pela escadaria, que parecia interminável. Conforme andava, sentia frio. Do fundo da gruta vinha uma estranha luz pela qual Aladim se guiava. Continuou a descer. A primeira coisa que encontrou, no fundo, foi a lâmpada que o mago lhe pedira. Admirado exclamou:
— Que lâmpada velha e suja! Para que ele faz questão de uma coisa dessas?
Aladim resolveu colher alguns frutos que pendiam das árvores e que lhe pareceram de vidro colorido. Nunca tinha visto pedras preciosas, por isso não podia reconhecê-las. As frutas eram na verdade rubis, safiras e brilhantes pois, sem o saber, ele estava num jardim encantado.
Com os bolsos cheios de jóias, tomou o caminho de volta para indagar ao mago onde estavam escondidos os tesouros que lhe prometera em troca da lâmpada.
A escada era tão longa que, quando chegou lá em cima, Aladim apenas pensava em ir embora e pediu ao mago:
— Ajude-me a sair deste buraco!
— Dê-me a minha lâmpada, depois eu o ajudo.
— Ajude-me primeiro, depois eu lhe dou a lâmpada.
Mas o mago continuou insistindo:
— Primeiro me dê a lâmpada.
— Não!
— Sim!
— Não!
— Pela última vez eu o aviso: me dê essa lâmpada!
— Tire-me daqui primeiro!
O mago, furioso, recolocou a pedra na entrada, dizendo:
— Pois fique aí para sempre.
O pobre Aladim desesperou-se, achando que nunca mais iria poder sair dali. Chorava muito triste, esfregando os olhos com as mãos. De repente surgiu diante dele um ser estranho, que disse:
— Ordene, meu senhor !
Aladim, estonteado com aquilo, indagou:
— Quem é você?
— Sou o gênio do anel. Você o esfregou ao esfregar os olhos e esse é o sinal para que eu me ponha às ordens do dono do anel encantado. Ordene, meu senhor!
— Quero voltar para casa — pediu Aladim.
— Assim será feito, meu senhor!
Ditas estas palavras, como num sonho, Aladim encontrou-se em sua casa.
Aladim contou tudo à mãe e mostrou-lhe as estranhas pedras que colhera das árvores do jardim encantado, explicando:
— Não havia tesouro nenhum, só estes vidros coloridos e esta lâmpada velha.
— Vou limpar a lâmpada para vendê-la — disse a mãe. — Assim compraremos alguma coisa para comer.
Pensando nas dificuldades por que passara com o mago, e no medo de ficar preso para sempre na caverna, Aladim comentou:
— Pena papai não estar mais conosco, para ver como vou me
tornar um bom filho.
A mãe o abraçou e o beijou, dizendo:
— Você é um bom menino. Quando eu tiver terminado de polir a lâmpada, você vai vendê-la no mercado.
Mal a mãe tocou na lâmpada, surgiu diante deles um ser enorme, duas vezes maior do que o gênio do anel, e disse
— Sou o gênio da lâmpada, nada me é impossível, ordene!
Aladim saltou de alegria. Batendo palmas, exclamou:
— Que maravilhai Gênio, arranje o almoço para nós.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! Vou servir-lhe as comidas mais raras.
Passaram-se os anos. Aladim não ficava mais só brincando com seus amigos, mas freqüentava o mercado onde se instruía conversando com os mercadores. Assim descobriu que o que ele achava ser bolas de vidro eram na verdade pedras preciosas de grande valor. Tornou-se homem e o gênio continuou obedecendo-o.
Nesse tempo em toda o reino se falava da beleza de Budur, a filha do imperador. De fato ninguém a vira, pois, quando ela passava pelas ruas, vinham à frente guardas, que ordenavam:
— Fechem todas as portas e janelas, que a Princesa Budur vai passar!
Mas um dia Aladim resolveu espiar e descobrir se a princesa era assim tão linda como diziam. Assim que a viu se apaixonou por ela e disse à mãe:
— Ponha as pedras preciosas do jardim encantado em uma cesta, leve-as ao imperador e peça-lhe a filha em casamento para mim.
— Mas, meu filho, o imperador não vai aceitar — ponderou a mãe.
— Aceita, sim! Mas espere, falta um guardanapo de linho para cobrir a cesta… Gênio da lâmpada, preciso de você.
— Ordene, meu senhor! Quer que eu derrube uma montanha? Construa uma cidade? Que esvazie o mar?
— Quero apenas um guardanapo de linho para cobrir esta cesta — disse Aladim.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor!
A mãe de Aladim tentou convencê-lo a desistir da idéia de casar com a princesa, mas ele continuou insistindo.
A mãe cedeu e foi para o palácio com a cestinha debaixo do braço. Lá ficou esperando horas e horas.
Por fim um ministro, pensando que se tratava de uma pobre mulher que precisava de algum auxílio do imperador, mandou-a entrar. Ela o seguiu muito humilde, sempre carregando a cesta coberta com o guardanapo de linho.
Curvou-se diante do imperador e disse:
— Majestade, meu filho Aladim manda-lhe este presente...
— De que se trata? — indagou o imperador, erguendo o guardanapo.
Mas, ao ver o que a cesta continha ficou deslumbrado e ofereceu:
— Em retribuição a este presente darei a Aladim o que ele me pedir.
— Ele pede sua filha em casamento.
— Está concedido — disse o imperador.
No dia do casamento houve festa em toda a China. Antes da cerimônia, Aladim esfregou a lâmpada e o gênio apareceu:
— Que você quer desta vez? Uma pitada de sal? Um fio de linha?
— Quero que você me construa, em frente ao do imperador, um palácio digno da princesa Budur. Use apenas os materiais mais preciosos. Faça um belo jardim com muitas fontes de água e encha os porões com moedas de ouro.
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! — respondeu o gênio.
E o palácio de Aladim surgiu imediatamente, reluzente de ouro e pedras preciosas. Cada manhã, quando o imperador olhava para o palácio de Aladim em frente ao seu, pensava no rico casamento que a filha fizera e sentia-se muito contente.
A bela Budur e Aladim viviam felizes no palácio de ouro. Em todo o reino falava-se de Aladim como um jovem sábio e generoso. Ele, por sua vez, sentia-se seguro tendo às suas ordens o gênio da lâmpada e o gênio do anel.
A felicidade dos dois jovens era completa, mas durou pouco. Aladim precisou viajar devido a uma guerra e Budur ficou só, no palácio.
Um dia a princesa foi atraída até a janela por um estranho pregão que vinha da rua:
— Quem quer trocar lâmpada velha por lâmpada nova? Dou uma lâmpada nova de presente em troca de sua lâmpada velha!
Quem gritava assim era o mago, inimigo de Aladim, que se aproveitava da ausência do jovem para tentar recuperar a lâmpada mágica. Com uma cesta cheia de lâmpadas novas embaixo do braço, pusera-se a gritar diante das janelas do palácio de Aladim.
Budur comentou com uma de suas servas a estranha maneira de aquele homem fazer negócios, e a moça aconselhou:
— Por que a senhora não troca a lâmpada velha que está no quarto de seu marido por uma nova?
— Você tem razão, vá buscar depressa aquela lâmpada para trocar.
Budur chamou o mago, que ela pensava que fosse um mercador, ofereceu a lâmpada velha, imaginando que ele ia recusar. O mago reconheceu logo a lâmpada mágica, deu outra em troca e afastou- se rapidamente. Muito feliz, tratou logo de esfregar a lâmpada e o gênio apareceu:
— Pronto, Aladim! Mas você não é Aladim!
O mago riu, maldoso, e respondeu:
— Claro que não sou Aladim! Sou seu novo senhor, o mago africano. Carregue para a África o palácio de Aladim com todos os seus habitantes. Rápido, vamos!
— Será cumprida sua ordem, meu senhor! A morada de Aladim será levada para a África neste mesmo momento.
Quando o pobre Aladim voltou da guerra, não encontrou mais seu palácio, nem sua esposa. Tudo tinha sido levado para a África. Por sua vez, o imperador estava furioso:
— Se minha filha não estiver de volta dentro de quarenta dias, mandarei cortar sua cabeça!
Aladim, tristíssimo, retirou-se para um lugar isolado e esfregou o anel. Imediatamente apareceu o gênio, a quem Aladim ordenou:
— Traga de volta minha esposa e meu palácio!
— Não tenho poderes sobre os encantamentos do gênio da lâmpada — explicou o gênio do anel ao desconsolado Aladim. — Posso apenas, se meu senhor quiser, conduzi-lo até o seu palácio na África.
Em seguida Aladim se encontrou na janela do seu palácio e chamou a esposa, que se alegrou muito em vê-lo. Aladim, sem perder tempo, explicou:
— Vim libertá-la! Isto é um narcótico violento, derrame-o no vinho do mago para que ele durma. O resto fica por minha conta.
— Farei o que você diz, mas fuja daqui. O mago ameaça mandar cortar sua cabeça.
Naquela noite o mago bebeu o narcótico e dormiu profundamente. Aladim, que ficara escondido, apoderou-se da lâmpada e a esfregou. O gênio apareceu, dizendo:
— Ordene, mago! Mas veja só! É o meu senhor Aladim!
— Eu mesmo! Depressa, carregue o mago o mais rápida possível para a ilha mais deserta que você encontrar! E a nós e ao castelo, leve de volta!
— Será cumprida sua ordem, meu senhor!
O imperador e a mãe de Aladim nem puderam acreditar quando viram os filhos de volta, tal a felicidade que sentiram.
o mago nunca mais saiu da ilha deserta. E, daí em diante Aladim e Budur foram outra vez muito felizes.
Autor: Conto das 1001 Noites


O Príncipe Sapo




Há muito, muito tempo, vivia um rei que tinha filhas muito belas. A mais jovem era tão linda que o sol, que já viu muito, ficava atônito sempre que iluminava seu rosto.
Perto do castelo do rei havia um bosque grande no qual havia uma lagoa perto de uma árvore frondosa.
Quando o dia era quente, a princesinha ia ao bosque e se sentava junto à fonte. Quando se aborrecia, pegava sua bola de ouro, a jogava alto e a recolhia. Essa bola era seu brinquedo favorito.
Aconteceu que uma das vezes que a princesa jogou a bola, esta não caiu em sua mão, mas quicou no chão e rolou na água.
A princesa vendo sua bola desaparecer na lagoa, que era profunda, tanto que não se via o fundo, começou a chorar. Chorou mais e mais forte, desconsolada. De repente ouviu uma voz dizendo:
- Por quê está aflita, princesa? Chora tanto que até as pedras sentem pena.
Olhou para o lugar de onde vinha a voz e viu um sapo colocando sua enorme e feia cabeça fora da água.
- Ah, é você, sapo – disse a princesa. - Estou chorando por minha bola de ouro que caiu na lagoa.
- Calma, não chore, - disse o sapo, - posso ajudar. Mas, o que me dará se devolver a bola?
- O que quiser, querido sapo - disse ela. - Minhas roupas, minhas pérolas, minhas jóias, até a coroa de ouro que levo.
O sapo disse:
- Não me interessam as roupas, as pérolas, nem as jóias, nem a coroa. Porém, se me prometer deixar-me ser seu companheiro e brincar com você, sentar ao seu lado na mesa, comer em seu pratinho de ouro, beber de seu copinho e dormir em sua cama, se me prometer isto, eu descerei e trarei a bola de ouro.
- Oh, sim! Prometo tudo o que quiser, mas devolva minha bola!
A princesa falou assim porque pensou: “Este sapo fala como um bobo. Tudo o que sabe fazer é sentar-se na água com outros sapos e coaxar. Não pode ser meu companheiro.”
O sapo, uma vez recebida a promessa, meteu a cabeça na água e mergulhou. Pouco depois voltou, nadando com a bola na boca, e a lançou na grama. A princesa estava encantada de ver seu precioso brinquedo outra vez, colheu-a e saiu correndo com ela.
- Espere, espere! - disse o sapo. - Leve-me! Não posso correr tanto como você!
Mas de nada serviu coaxar atrás dela tão forte quanto pôde. Ela não o escutou e correu para casa, abandonando o pobre sapo, que se viu obrigado a voltar à lagoa outra vez.
No dia seguinte, ela sentou à mesa com o rei e toda a corte. Estava comendo em seu pratinho de ouro quando algo veio arrastando-se, plof, plof, plof, pela escada de mármore. Chegou à porta e gritou:
- Princesa, jovem princesa, abra a porta!
Ela correu para ver quem estava lá fora. Quando abriu a porta, a princesa viu o sapo sentado diante dela e bateu a porta na sua cara. Com pressa tornou a sentar, mas seu coração batia violentamente. O rei se deu conta de que estava muito assustada e disse:
- Minha filha, por que está assustada? Há um gigante aí fora que quer levar você?
- Ah não, - respondeu ela, - não é um gigante, apenas um sapo.
- O que quer o sapo?
- Ah! querido pai, estava brincando no bosque, junto à lagoa, quando minha bola de ouro caiu na água. Como chorei muito, o sapo a devolveu, e porque insistiu muito, prometi que seria meu companheiro. Nunca pensei que seria capaz de sair da água.
Entretanto o sapo chamou outra vez e gritou:
- Princesa, jovem princesa, abra a porta! Não lembra o que me disse na lagoa?
Então o rei falou:
- Aquilo que prometeu, deve cumprir. Deixe-o entrar.
De má vontade, ela foi abrir a porta e voltou à mesa. O sapo a seguiu pulando até sua cadeira e gritou:
- Coloque-me com você!
Ela o ignorou até que o rei lhe ordenou obedecer. Uma vez na cadeira, o sapo quis sentar na mesa. Quando subiu, disse:
- Aproxime seu pratinho de ouro porque devemos comer juntos.
Ela o fez, mas se via que não estava gostando nem um pouco. O sapo aproveitou para comer, porém ela enjoava a cada bocado. Em seguida o sapo disse:
- Comi e estou satisfeito, mas estou cansado. Leve-me ao quarto, prepare a sua caminha de seda e nós dois vamos dormir.
A princesa começou a chorar porque não queria o sapo na sua preciosa e limpa caminha. Porém o rei se aborreceu e disse:
- Não devia desprezar àquele que ajudou você.
Assim, ela pegou o sapo com dois dedos, o levou para cima e o deixou num canto. Assim que a princesa deitou na cama, o sapo se arrastou até ela e disse:
- Estou cansado, eu também quero dormir, sobe-me senão conto ao seu pai.
Ela ficou tão aborrecida que pegou o sapo e o jogou contra a parede.
- Cale-se, bicho odioso!
Porém, quando caiu ao chão, não era mais um sapo e sim um príncipe com lindos olhos. Ele contou como havia sido encantado por uma bruxa malvada e que ninguém poderia livrá-lo do feitiço exceto ela. Também disse que no dia seguinte iriam todos juntos ao seu reino.
Na manhã seguinte, quando o sol os despertou, chegou uma carruagem puxada por oito cavalos brancos com plumas de avestruz na cabeça, enfeitados com correntes de ouro. Atrás estava Enrique, o jovem escudeiro do rei.
Ele tinha ficado tão triste quando seu senhor foi transformado em sapo que tinha colocado três faixas de ferro rodeando seu coração, para que este não se partisse de pesar.
Enrique ajudou o príncipe e a princesa a entrar na carruagem que ia levá-los ao seu reino e subiu atrás, cheio de alegria pela libertação de seu senhor. Já estavam a caminho quando o filho do rei escutou um ruído forte atrás dele, como se algo tivesse quebrado. Gritou:
- Enrique, o carro está se rompendo!
- Não amo, não é o carro. É uma faixa que coloquei no meu coração por causa da minha grande dor.
Duas vezes mais escutaram este ruído, e cada vez o filho do rei pensou que o carro estava se rompendo, porém eram apenas as faixas se desprendendo do coração de Enrique porque seu senhor estava livre do feitiço e estava feliz.
Autor: Irmãos Grimm

A Gata Borralheira






Era uma vez um nobre que se casou pela segunda vez com uma mulher que tinha um temperamento terrível, era orgulhosa e arrogante. Tinha duas filhas tão orgulhosas e de mau gênio quanto a mãe. O nobre, por sua vez tinha uma linda filha que era a própria doçura e bondade, ela herdara a beleza deslumbrante e o temperamento gentil de sua mãe.
Logo após o casamento a madrasta pôs a mostra o seu mau gênio. Detestava as qualidades da enteada, que faziam suas filhas parecerem ainda mais detestáveis. Incumbiu-lhe dos serviços mais pesados e grosseiros da casa. Era ela que lavava toda louça e a roupa da casa, e as escadarias, e ainda limpava e arrumava os quartos. Seu quarto agora era o sótão, enquanto sua madrasta e irmãs dormiam em aposentos luxuosos, atapetados, ricamente decorados e com amplos espelhos, onde passavam horas se olhando, alimentando a sua vaidade.
A menina suportava tudo com paciência. Não se queixava com o pai, que parecia estar enfeitiçado pela nova esposa. Todos os dias após terminar seu trabalho ela se sentava junto à lareira, no meio das cinzas, por isso todos a chamavam de Gata Borralheira. Entretanto, apesar das roupas luxuosas das filhas da madrasta, a Gata Borralheira, que usava quase trapos, era evidentemente muito mais bonita do que elas.
Certo dia o filho do rei, o príncipe, resolveu dar um baile e convidar todas as pessoas importantes do reino, e a família da Gata Borralheira por ser da nobreza estava incluída. As irmãs ficaram eufóricas, ocupadíssimas, passavam todas as suas horas a escolher roupas, sapatos, jóias e penteados com que iriam ao baile. O que significava mais e mais trabalho para a Gata Borralheira que, além de seu trabalho habitual, tinha que lavar e passar vestidos e saias cheios de babados.
- Acho que vou usar meu vestido de veludo azul com gola de renda inglesa, - dizia a mais velha.
- Vou usar minha saia bordô com meu mantô de flores douradas e meu broche de diamantes, - dizia a segunda.
Fizeram vir o melhor cabeleireiro da região para que ficasse totalmente a disposição delas, fazendo os penteados mais rebuscados. Mas, quanto mais tentavam ser elegantes, mais sua feiúra era ressaltada. A toda hora chamavam a Gata Borralheira para dar opinião, pois sabiam que tinha bom gosto. E ela, de boa vontade, deu as melhores sugestões, e elas perguntaram:
- Gata Borralheira, você gostaria de ir conosco ao baile?
- Pobre de mim! Nem tenho o que vestir. Vocês estão é zombando de mim.
- Tem razão, todos dariam boas risadas se vissem uma Gata Borralheira entrando no baile!
A Gata Borralheira, entretanto, era muito bondosa e não se ofendia, ajudando no que podia para que elas ficassem com o melhor aspecto possível. As irmãs, que estavam bem gordas, ficaram quase dois dias sem comer tentando emagrecer um pouquinho. Arrebentaram mais de uma dúzia de corpetes, de tanto apertá-los na tentativa de afinar a cintura, e passavam os dias em frente ao espelho.
Finalmente chegou o grande dia. Elas começaram a se arrumar desde as primeiras horas da manhã e quando chegou a hora, partiram. A Gata Borralheira ficou vendo-as se afastar e começou a chorar.
De repente uma luz azul encheu a cozinha e a Gata Borralheira viu aparecer uma mulher lindíssima e resplandecente.
- Eu sou a sua Fada Madrinha e venho consolar você, porque continuou a ser boa apesar dos sofrimentos. Peça-me o que quiser, que eu lhe darei.
A Gata Borralheira pensou estar sonhando e ficou muda. Então a Fada Madrinha, que tudo sabia, disse:
- Gostaria de ir ao Baile do Palácio?
- Sim, sim... isso é o que eu mais desejo neste mundo! - respondeu a jovem, suspirando profundamente.
- Está bem, eu farei com que você vá a esse baile, e como a moça mais bonita do reino! Para começar, desça ao jardim e traga-me uma abóbora!
A Gata Borralheira procurou a abóbora maior e mais bonita que pode encontrar e a levou para a madrinha, embora não conseguisse imaginar como aquela abóbora poderia ajudá-la a ir ao baile. A madrinha escavou a abóbora deixando só a casca. Depois tocou nela com sua varinha de condão e, no mesmo instante, a abóbora se transformou em uma linda carruagem toda dourada. Depois se dirigiu às ratoeiras da casa apanhando seis gordinhos camundongos. Tocou cada um deles com sua varinha transformando-os em belos cavalos de raça, assim formaram-se três belas parelhas de graciosos cavalos. Agora era preciso achar um cocheiro. A Gata Borralheira disse:
- Vou buscar Tom, o cachorro da casa, - trazendo-o logo em seguida. A madrinha o tocou com a varinha e ele se transformou em um cocheiro corpulento e com longos cabelos castanhos.
Em seguida ordenou à a Gata Borralheira:
- Vá ao jardim e lá encontrará seis lagartos atrás da torneira. Traga-os para mim.
Assim que ela os trouxe, a madrinha os transformou em seis lacaios, que rapidamente se puseram atrás da carruagem com suas librés, ficando empoleirados como se tivessem passado a vida toda fazendo isso. A fada se virou para a Gata Borralheira e disse:
- Pronto, agora você já pode ir ao baile. Está feliz?
- Estou, mas não posso chegar ao baile assim, maltrapilha!
- É mesmo, - disse a madrinha assustada, - deixe eu dar um jeito nisso!
E tocou com sua varinha nas vestes pobres da Gata Borralheira que imediatamente foram transformadas em um lindo vestido rosa claro todo bordado em prata; seus cabelos ficaram penteados, belas jóias adornaram seu pescoço e em seus pés surgiu o mais belo par de sapatinhos de cristal.
- Á meia-noite em ponto terminará o feitiço e tudo será como antes -disse-lhe a Fada Madrinha ao despedir-se dela.
Recomendou que, acima de tudo, não passasse da meia noite, pois nesse instante toda magia iria desaparecer, sua carruagem voltaria a ser abóbora, os animaizinhos voltariam a sua forma original e ela tornaria a estar vestida de trapos. A Gata Borralheira prometeu estar atenta. Então, deslumbrante, montou na carruagem e partiu, não cabendo em si de tanta alegria.
Enquanto isso, no baile, o príncipe estava desanimado, cercado de moças evidentemente interesseiras, frívolas e vazias, e saiu ao ar livre para tomar um pouco de ar, e nessa hora a Gata Borralheira chegou ao baile. Ao ver aquela lindíssima moça na carruagem, ele ficou encantado e correu para recebê-la. Deu-lhe a mão ajudando-a a descer da carruagem e a conduziu ao salão onde estavam todos os convidados. A Gata Borralheira estava igualmente encantada por ele. Quando entraram se fez um grande silêncio; todos pararam de dançar e os violinos emudeceram, tal era a atenção com que contemplavam a grande beleza da desconhecida. Todos achavam se tratar de uma princesa e só se ouvia murmúrios: “Ah, como é bela!”. O rei e a rainha a acharam encantadora.
Todos os olhos eram para ela, as damas não cansavam de examinar suas roupas e penteado, ansiosas para fazer igual. O príncipe conduziu a Gata Borralheira ao lugar de honra e depois a tirou para dançar, e ela dançava com tanta graça que a todos encantava. Comeu uma ceia maravilhosa, ficou frente a frente com suas irmãs que em nem um momento a reconheceram e estavam encantadas com ela, pensando que se tratasse de uma princesa estrangeira.
O Príncipe não deixou de dançar com ela um só momento. A Gata Borralheira estava tão envolta com o príncipe que não percebeu o tempo passar, foi quando então ouviu soar um quarto para a meia-noite. Sem pestanejar fez uma reverência e saiu correndo tão inesperada e rapidamente que o príncipe ficou sem ação. Só foi o tempo de chegar em casa e o encanto se desfez, voltando tudo a ser como era. A Gata Borralheira foi falar com a sua madrinha, contou como foi o baile, agradeceu-lhe muito e disse que gostaria muito de ir novamente ao baile do dia seguinte, pois o príncipe a convidara.
Enquanto conversava com a madrinha as irmãs e a madrasta chegaram e bateram à porta; a Gata Borralheira foi abrir.
- Como demoraram a chegar! - disse, bocejando, esfregando os olhos e se espreguiçando como se tivesse acabado de acordar.
As irmãs queriam espezinhá-la e não paravam de contar coisas magníficas sobre o baile:
- Se você tivesse ido ao baile teria visto a mais bela princesa que já apareceu neste reino, ela ficou nossa amiga, não parava de conversar conosco!
A Gata Borralheira ficou radiante ao ouvir essas palavras, e também achou muito engraçado. Perguntou o nome da princesa, mas as irmãs responderam que ninguém a conhecia e que até o príncipe estava pasmo. Ele daria qualquer coisa para saber quem era ela. A Gata Borralheira sorriu e lhes disse:
- Ela era bonita mesmo? Que sorte vocês tiveram! Ah, se eu pudesse vê-la também! Que pena!
E as irmãs começaram a rir e a debochar:
- Você, a Gata Borralheira, chegar perto de uma fina dama da corte, não nos faça rir!
No dia seguinte, ou melhor, na noite seguinte as duas irmãs e a madrasta foram no segundo baile, mas o que elas não podiam imaginar é que a Gata Borralheira também foi e ainda mais magnificamente trajada que da primeira vez. Usava um vestido verde, da cor de seus olhos, e que trazia todos os peixinhos do mar. Como na primeira noite o príncipe ficou todo o tempo junto dela e não parou de lhe sussurrar palavras doces. A jovem estava se divertindo tanto dançando com seu amado que esqueceu o conselho da sua madrinha, e foi com um grande susto que escutou soar a primeira badalada da meia-noite. Libertou-se dos braços do príncipe e fugiu célere como uma corsa, deixando cair um dos seus sapatinhos de cristal na escadaria do palácio. O príncipe a seguiu, mas não conseguiu alcançá-la. O feitiço se desfez e a Gata Borralheira chegou em casa sem fôlego, suas roupas os mesmos trapos de sempre. Sua carruagem tinha virado uma abóbora que ficou aos pedaços pelo caminho, os lacaios tinham voltado a ser os bichinhos de antes e não lhe restara nada de todo esplendor de a pouco, apenas um pé dos sapatinhos, o par do que deixara cair.
Quando as irmãs e a madrasta voltaram do baile a Gata Borralheira perguntou como foi, se tinham se divertido e se a bela dama lá estivera. Responderam que sim, mas que fugira ao toque da décima segunda badalada, e tão depressa que deixara cair um de seus sapatinhos de cristal, o mais lindo do mundo. Contaram que o filho do rei o pegara e que junto aos seus soldados saíra em busca da sua linda princesa. Tinham certeza que ele estava completamente apaixonado pela linda moça, a dona do sapatinho.
O príncipe tinha guardado o sapatinho de cristal com todo cuidado.
- A dona deste sapato de cristal é também a dona do meu coração! -disse ao Rei, seu pai.
- Quero que procurem essa jovem por todo o reino! - ordenou o Rei.
Deu ordens à guarda para procurá-la em todos os cantos, e assim foi feito, mas não se encontrou nem sombra dela. O príncipe mandou anunciar ao som de trompas que se casaria com aquela cujo pé coubesse no sapatinho. Mandou enviados por todo o reino para experimentá-lo nas princesas, depois nas duquesas e na corte inteira, mas em vão. Levaram-no então a todas as outras casas do reino. Quando chegaram à casa das duas irmãs, estas não mediram esforços para enfiarem seus pés no sapatinho, mas sem sucesso. A Gata Borralheira, que discretamente as observava, havia reconhecido seu sapatinho e disse, sorrindo:
- Deixem-me ver se serve em mim.
As irmãs começaram a rir e a caçoar dela, porém o fidalgo que fazia a prova do sapato olhou atentamente com seu olhar experiente para a Gata Borralheira e, reconhecendo sob àquelas pobres roupas a classe de uma princesa e achando-a belíssima, disse que o pedido era justo e que ele tinha ordens de experimentá-lo em todas as moças. Pediu à Gata Borralheira que se sentasse. Levou o sapato até seu pezinho e viu que cabia perfeitamente, como um molde de cera. O espanto da madrasta e das irmãs foi grande, mas maior ainda quando a Gata Borralheira tirou do bolso o outro sapatinho e o calçou. Neste instante sua Fada Madrinha entrou e, tocando-a com sua varinha, transformou os trapos da Gata Borralheira num esplêndido vestido. As duas irmãs, pasmas, perceberam que a Gata Borralheira era a linda princesa que tinham visto no baile. Jogaram-se aos seus pés para lhe pedir perdão por todos os maus tratos que a tinham feito sofrer. A Gata Borralheira perdoou tudo, abraçando-as.
Levaram a Gata Borralheira até o príncipe, suntuosamente vestida como estava. Pouco tempo depois a Gata Borralheira e o Príncipe casaram. Nunca houve um casamento tão magnífico! E os apaixonados viveram felizes, durante muitos e muitos anos.
Autor: Perrault

A Pequena Sereia





Muito longe da terra, onde o mar é muito azul, vivia o povo do mar. O rei desse povo tinha seis filhas, todas muito bonitas, e donas das vozes mais belas de todo o mar, porém a mais moça se destacava, com sua pele fina e delicada como uma pétala de rosa e os olhos azuis como o mar. Como as irmãs, não tinha pés mas sim uma cauda de peixe. Ela era uma sereia.
Essa princesinha era a mais interessada nas histórias sobre o mundo de cima, e desejava poder ir à superfície; queria saber tudo sobre os navios, as cidades, as pessoas e os animais.
— Quando você tiver quinze anos — dizia a avó — subirá à superfície e poderá se sentar nos rochedos para ver o luar, os navios, as cidades e as florestas.
Os anos se passaram...
Quando a princesinha completou quinze anos mal pôde acreditar. Subiu até a superfície e viu o céu, o sol, as nuvens... Viu também um navio e ficou muito curiosa. Foi nadando até se aproximar da grande embarcação. Avistou, através dos vidros das vigias, passageiros ricamente trajados. O mais belo de todos era um jovem príncipe e a pequena sereia se apaixonou por ele.
A sereiazinha ficou horas admirando seu príncipe, e só despertou de seu devaneio quando o navio foi pego de surpresa por uma tempestade e começou a tombar. A menina viu o príncipe cair no mar e afundar, e se lembrou de que os homens não conseguem viver dentro da água. Mergulhou na sua direção e o pegou já desmaiado, levando-o para uma praia.
Ao amanhecer, o príncipe continuava desacordado. A pequena sereia, vendo que um grupo de moças se aproximava, escondeu-se atrás das pedras, ocultando o rosto entre os flocos de espuma.
As moças viram o náufrago deitado na areia e foram buscar ajuda. Quando finalmente acordou, o príncipe não sabia como havia chegado àquela praia, e tampouco fazia idéia de quem o havia salvado do naufrágio. Olhou para as pessoas à sua volta. Uma delas era uma moça tão linda que o príncipe se apaixonou por ela.
A princesa sereia voltou para o castelo muito triste e calada, e não respondia às perguntas de suas irmãs sobre sua primeira visita à superfície.
A sereiazinha voltou várias vezes à praia onde tinha deixado o príncipe, mas ele nunca aparecia por lá, o que a deixava ainda mais triste. Suas irmãs estavam muito preocupadas, e fizeram tantas perguntas que ela acabou contando o que havia acontecido.
Uma das amigas de uma das princesas conhecia o príncipe e sabia onde ele morava. A pequena sereia se encheu de alegria, e ia nadar todos os dias na praia em que ficava seu palácio. Observava seu amado de longe e cada vez mais gostava dos seres humanos, desejando ardentemente viver entre eles.
Muito curiosa para conhecer melhor os humanos, perguntou à sua avó se eles também morriam.
— Sim, morrem como nós, e vivem menos. Nós podemos viver trezentos anos, e quando “desaparecemos” somos transformadas em espuma. Nossa alma não é imortal. Já os humanos têm uma alma que vive eternamente.
— Eu daria tudo para ter a alma imortal como os humanos! — suspirou a sereiazinha.
— Se um homem vier a amar você profundamente, se ele concentrar em você todos os seus pensamentos e todo o seu amor, e se deixar que um sacerdote ponha a sua mão direita na dele, prometendo ser fiel nesta vida e na eternidade, então a alma dele se transferirá para o seu corpo. Ele dará a você uma alma, sem perder a dele... Mas isso jamais acontecerá! A sua cauda de peixe, que para nós é um símbolo de beleza, é considerada uma deformidade na terra.
A sereiazinha suspirou, olhando tristemente para a sua cauda de peixe e desejando ter um par de pernas em seu lugar. Mas a menina não esquecia a idéia de ter uma alma imortal e resolveu procurar a bruxa do mar, famosa por transformar sonhos de jovens sereias em realidade... desde que elas pagassem um preço por isso.
O lugar onde a bruxa do mar morava era assustador, e a princesa precisou de muita coragem para chegar lá. A bruxa já a esperava, e foi logo dizendo:
— Já sei o que você quer. É uma loucura querer ter pernas, isso trará muita infelicidade a você! Mesmo assim vou preparar uma poção, mas essa transformação será dolorosa. Cada passo que você der será como se estivesse pisando em facas afiadas, e a dor a fará pensar que seus pés foram dilacerados. Você está disposta a suportar tamanho sofrimento?
— Sim, estou pronta! — disse a pequena sereia, pensando no príncipe e na sua alma imortal.
— Pense bem, menina. Depois de tomar a poção você nunca mais poderá voltar à forma de sereia... E se o seu príncipe se casar com outra você não terá uma alma imortal e morrerá no dia seguinte ao casamento dele.
A sereiazinha assentiu com a cabeça e, sem dizer uma palavra, ficou observando a bruxa fazer a poção.
— Pronto, aqui está ela... Mas antes de entregá-la a você, aviso que meu preço por este trabalho é alto: quero a sua linda voz como pagamento. Você nunca mais poderá falar ou cantar...
A princesa sereia quase desistiu, mas pensou no seu príncipe e pegou a poção que a bruxa lhe estendia. Não quis voltar para o palácio, pois não poderia falar com suas irmãs, sua avó e seu pai. Olhou de longe o palácio onde nasceu e cresceu, soltou um beijo na sua direção e nadou para a praia.
Assim que bebeu a poção, sentiu como se uma espada lhe atravessasse o corpo e desmaiou. Acordou com o príncipe observando-a. Ele a tomou docemente pela mão e a conduziu ao seu palácio. Como a bruxa havia dito, a cada passo que a menina dava sentia como se estivesse pisando sobre lâminas afiadíssimas, mas suportava tudo com alegria pois finalmente estava ao lado de seu amado príncipe.
Ele estava encantado com a beleza da moça, e ela passou a acompanhá-lo em todos os lugares. À noite, dançava para ele, e seus olhos se enchiam de lágrimas, tamanha dor sentia nos pés. Quem a visse dançando ficava hipnotizado com sua graça e leveza, e acreditava que suas lágrimas eram de emoção.
O príncipe, no entanto, não pensava em se casar com ela, pois ainda tinha esperança de encontrar a linda moça que ele vira na praia, após o naufrágio, e por quem se apaixonara sem saber quem era.
Todas as noites a princesinha ia refrescar os pés na água do mar. Nessas horas, suas irmãs se aproximavam da praia para matar a saudade da caçulinha. Sua avó e seu pai, o rei dos mares, também
apareciam para vê-la, mesmo que de longe.
A família do príncipe queria que ele se casasse com a filha do rei vizinho, e organizou uma viagem para apresentá-los. O príncipe, a sereiazinha e um numeroso séquito seguiram em viagem para o reino vizinho.
Quando o príncipe viu a princesa, não se conteve:
— Foi você que eu vi na praia! Foi você que me salvou! Finalmente encontrei você, minha amada!
A princesa era realmente a moça que o príncipe viu naquela praia ao acordar, mas o rapaz não sabia que a pequena sereia o havia salvo. Para tristeza da sereiazinha, a princesa também se apaixonara pelo príncipe e os dois marcaram o casamento para o dia seguinte. Todo o sacrifício da pequena sereia havia sido em vão.
Depois do casamento, os noivos e a comitiva voltaram de navio para o palácio do príncipe, e a sereiazinha ficou observando o amanhecer, esperando o primeiro raio de sol que deveria matá-la.
Viu então suas irmãs, pálidas e sem a longa cabeleira, nadando ao lado do navio. Em suas mãos brilhava um objeto.
— Nós entregamos nossos cabelos para a bruxa do mar em troca desta faca. Você deve enterrá-la no coração do príncipe. Só assim poderá voltar a ser uma sereia novamente e escapará da morte. Corra, você deve matá-lo antes do nascer do sol.
A pequena sereia pegou a faca e foi até o quarto do príncipe. Mas, ao vê-lo dormir, não teve coragem de matá-lo. Caminhou lentamente até a murada do navio, mergulhou no mar azul e, ao confundir-se com as ondas, sentiu que seu corpo ia se diluindo em espuma.
Autor: Andersen


A Bela Adormecida




Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha jovens, poderosos e ricos, mas pouco felizes, porque não tinham concretizado o maior sonho deles: terem filhos.
— Se pudéssemos ter um filho! — suspirava o rei.
— E se Deus quisesse, que nascesse uma menina! —animava-se a rainha.
Não se alegravam nem com os bailes da corte, nem com as caçadas, nem com os gracejos dos bufões, e em todo o castelo reinava uma grande melancolia.
Numa tarde de verão, a rainha foi banhar-se no riacho que passava no fundo do parque real. E, de repente, pulou para fora da água uma rãzinha.
— Majestade, não fique triste, o seu desejo se realizará logo: antes que passe um ano a senhora dará à luz uma menina.
A profecia da rã se concretizou e, meses depois, a rainha deu a luz a uma linda menina. O rei, feliz, deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa, que se chamava Aurora.
Convidou uma multidão de súditos: parentes, amigos, nobres do reino e, como convidadas de honra, as treze fadas que viviam nos confins do reino. Mas, quando os mensageiros iam saindo com os convites, o camareiro-mor correu até o rei, preocupadíssimo.
— Majestade, as fadas são treze, e nós só temos doze pratos de ouro. O que faremos? A fada que tiver de comer no prato de prata, como os outros convidados, poderá se ofender. E uma fada ofendida…
O rei refletiu longamente e decidiu:
— Não convidaremos a décima terceira fada — disse, resoluto.
— Talvez nem saiba que nasceu a nossa filha e que daremos uma festa. Assim, não teremos complicações.
Partiram somente doze mensageiros, com convites para doze fadas, conforme o rei resolvera.No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso.
— Será a mais bela moça do reino — disse a primeira fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de caráter mais justo — acrescentou a segunda.
— Terá riquezas a perder de vista — proclamou a terceira.
— Ninguém terá o coração mais caridoso que o seu — afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol — comentou a quinta.
Onze fadas já tinham passado em frente ao berço e dado a pequena princesa um dom; faltava somente uma (entretida em tirar uma mancha do vestido, no qual um garçom desajeitado tinha virado uma taça de sorvete) quando chegou a décima terceira, aquela que não tinha sido convidada por falta de pratos de ouro.
Estava com a expressão muito sombria e ameaçadora, terrivelmente ofendida por ter sido excluída. Lançou um olhar maldoso para a princesa Aurora, que dormia tranqüila, e disse:
— Aos quinze anos a princesa vai se ferir com o fuso de uma roca e morrerá.
E foi embora, deixando um silêncio desanimador e os pais desesperados.
Então aproximou-se a décima segunda fada, que devia ainda oferecer seu presente.
— Não posso cancelar a maldição que agora atingiu a princesa. Tenho poderes só para modificá-la um pouco. Por isso, Aurora não morrerá; dormirá por cem anos, até a chegada de um príncipe que a acordará com um beijo.
Passados os primeiros momentos de espanto e temor, o rei decidiu tomar providências; mandou queimar todas as rocas do reino. E, daquele dia em diante, ninguém mais fiava, nem linho, nem algodão, nem lã.
Aurora crescia, e os presentes das fadas, apesar da maldição, estavam dando resultados. Era bonita, boa, gentil e caridosa, os súditos a adoravam.
No dia em que completou quinze anos, o rei e a rainha estavam ausentes, ocupados numa partida de caça. Talvez, quem sabe, em todo esse tempo tivessem até esquecido a profecia da fada malvada.
A princesa Aurora, porém, estava se aborrecendo por estar sozinha e começou a andar pelas salas do castelo. Chegando perto de um portãozinho de ferro que dava acesso à parte de cima de uma velha torre, abriu-o, subiu a longa escada e chegou, enfim, a um quartinho.
Ao lado da janela estava uma velhinha de cabelos brancos, fiando com o fuso uma meada de linho. A garota olhou, maravilhada. Nunca tinha visto um fuso.
— Bom dia, vovozinha.
— Bom dia a você, linda garota.
— O que está fazendo? Que instrumento é esse?
Sem levantar os olhos do seu trabalho, a velhinha respondeu com ar bonachão:
— Não está vendo? Estou fiando!
A princesa, fascinada, olhava o fuso que girava entre os dedos da velhinha.
— Parece mesmo divertido esse estranho pedaço de madeira que gira assim rápido. Posso experimentá-lo também?
Sem esperar resposta, pegou o fuso. E, naquele instante, cumpriu-se o feitiço. Aurora furou o dedo e sentiu um grande sono. Deu tempo apenas para deitar-se na cama que havia no aposento, e seus olhos se fecharam.
Na mesma hora, aquele sono estranho se difundiu por todo o palácio.
Adormeceram no trono o rei e a rainha, recém-chegados da partida de caça.
Adormeceram os cavalos na estrebaria, as galinhas no galinheiro, os cães no pátio e os pássaros no telhado.
Adormeceu o cozinheiro que assava a carne e o servente que lavava as louças; adormeceram os cavaleiros com as espadas na mão e as damas que enrolavam seus cabelos.
Também o fogo que ardia nos braseiros e nas lareiras parou de queimar, parou também o vento que assobiava na floresta. Nada e ninguém se mexia no palácio, mergulhado em profundo silêncio.
Em volta do castelo surgiu rapidamente uma extensa mata. Tão extensa que, após alguns anos, o castelo ficou oculto.
Nem os muros apareciam, nem a ponte levadiça, nem as torres, nem a bandeira hasteada que pendia na torre mais alta.
Nas aldeias vizinhas, passava de pai para filho a história da princesa Aurora, a bela adormecida que descansava, protegida pelo bosque cerrado. A princesa Aurora, a mais bela, a mais doce das princesas, injustamente castigada por um destino cruel.
Alguns cavalheiros, mais audaciosos, tentaram sem êxito chegar ao castelo. A grande barreira de mato e espinheiros, cerrada e impenetrável, parecia animada por vontade própria: os galhos avançavam para cima dos coitados que tentavam passar: seguravam-nos, arranhavam-nos até fazê-los sangrar, e fechavam as mínimas frestas.
Aqueles que tinham sorte conseguiam escapar, voltando em condições lastimáveis, machucados e sangrando. Outros, mais teimosos, sacrificavam a própria vida.
Um dia, chegou nas redondezas um jovem príncipe, bonito e corajoso. Soube pelo bisavô a história da bela adormecida que, desde muitos anos, tantos jovens procuravam em vão alcançar.
— Quero tentar também — disse o príncipe aos habitantes de uma aldeia pouco distante do castelo.
Aconselharam-no a não ir.
— Ninguém nunca conseguiu!
— Outros jovens, fortes e corajosos como você, falharam…
— Alguns morreram entre os espinheiros…
— Desista!
Muitos foram, os que tentarem desanimá-lo.
No dia em que o príncipe decidiu satisfazer a sua vontade se completavam justamente os cem anos da predição da fada. Chegara, finalmente, o dia em que a bela adormecida poderia despertar. Quando o príncipe se encaminhou para o castelo viu que, no lugar das árvores e galhos cheios de espinhos, se estendiam aos milhares, bem espessas, enormes carreiras de flores perfumadas. E mais, aquela mata de flores cheirosas se abriu diante dele, como para encorajá-lo a prosseguir; e voltou a se fechar logo, após sua passagem.
O príncipe chegou em frente ao castelo. A ponte levadiça estava abaixada e dois guardas dormiam ao lado do portão, apoiados nas armas. No pátio havia um grande número de cães, alguns deitados no chão, outros encostados nos cantos; os cavalos que ocupavam as estrebarias dormiam em pé.
Nas grandes salas do castelo reinava um silêncio tão profundo que o príncipe ouvia sua própria respiração, um pouco ofegante, ressoando naquela quietude. A cada passo do príncipe se levantavam nuvens de poeira.
Salões, escadarias, corredores, cozinha… Por toda parte, o mesmo espetáculo: gente que dormia nas mais estranhas posições.
O príncipe perambulou por longo tempo no castelo. Enfim, achou o portãozinho de ferro que levava à torre, subiu a escada e chegou ao quartinho em que dormia a princesa Aurora.
A princesa estava tão bela, com os cabelos soltos espalhados nos travesseiros, o rosto rosado e risonho que o príncipe ficou deslumbrado. Inclinou-se e deu-lhe um beijo.
Imediatamente, Aurora despertou, olhou para o príncipe e sorriu.
Todo o reino também despertara naquele instante.
Acordou também o cozinheiro que assava a carne; o servente, bocejando, continuou lavando as louças, enquanto as damas da corte voltavam a enrolar seus cabelos.
O fogo das lareiras e dos braseiros subiu alto pelas chaminés, e o vento fazia murmurar as folhas das árvores. A vida voltara ao normal. Logo, o rei e a rainha correram à procura da filha e, ao encontrá-la, chorando, agradeceram ao príncipe por tê-la despertado do longo sono de cem anos.
O príncipe, então, pediu a mão da linda princesa em casamento que, por sua vez, já estava apaixonada pelo seu valente salvador.
Eles, então, se casaram e viveram felizes para sempre!
Autor: Irmãos Grimm


O Brocado Maravilhoso


Uma pobre mulher, viúva, morava com seus três filhos numa pequena aldeia ao pé de uma montanha. Sustentava a família tecendo lindos brocados com animais e flores que pareciam ter vida. Aos domingos, levava seus trabalhos para vender na feira de uma cidadezinha próxima.
Os dois filhos mais velhos não queriam saber de trabalhar, passavam os dias espreguiçando-se ao sol. O caçula era quem a ajudava com pequenos serviços: limpar a casa, catar gravetos para manter o fogo aceso, carregar água para os banhos e para a comida.
Certo domingo, a viúva tendo vendido rapidamente sua mercadoria, sobrou-lhe tempo de passear pela feira. Sua atenção foi chamada para um lindo quadro que, junto com outros de igual beleza, formavam o acervo de venda de uma barraca. Era uma pintura reproduzindo uma paisagem parecida com o lugar onde morava: as mesmas montanhas azuis, o mesmo riacho de águas prateadas. Mas as casas eram bem diferentes. Em vez dos casebres pobres cercados por terrenos secos, viam-se belas casas pintadas de cores alegres, rodeadas de jardins de flores coloridas. Em verdes pastagens viam-se aves domésticas, cabras e ovelhas, bois e cavalos.
Perguntou o preço. Era tão caro que custava quase todo o dinheiro de que dispunha e que deveria ser usado na compra dos víveres. Rodou, rodou pela feira, mas o quadro não lhe saia da cabeça. Num impulso, voltou à banca onde ele estava exposto e comprou-o. Com o pouco dinheiro restante comprou arroz. Era o que ela e seus filhos comeriam na semana seguinte.
Quando voltou para sua humilde cabana, mostrou-o aos filhos, dizendo-lhes: “Ainda vamos morar num lugar assim!”
“Só se for em sonho …”, o mais velho respondeu.
“Ou talvez numa outra vida”, acrescentou o do meio.
Com pena da mãe, o caçula sugeriu: “Por que você não tece um brocado com essa imagem? Assim, enquanto estiver trabalhando, haverá de sentir como se morasse mesmo num lugar tão bonito…”.
A viúva aprovou a sugestão e foi logo escolher seus fios de seda mais brilhantes.
Como seria um projeto demorado e a família precisava ser alimentada, ela fazia os tecidos habituais para venda de dia e só trabalhava no quadro de seda à noite. À noite a pobre mulher trabalhava à luz do fogo e não abandonava o tear nem quando sentia os olhos doerem e lacrimejarem. Depois de um ano derramou uma chuva de lágrimas sobre o trabalho, e onde elas caíram teceu um riacho e um lago. Depois de dois anos verteu sangue dos olhos, e onde ele caiu teceu um sol e várias flores rubras. Depois de três anos concluiu sua obra.
No quadro tinha uma casa com paredes azuis, colunas vermelhas e telhado verde. O jardim florido abrigava no centro um lago cheio de peixes. No pomar as árvores estavam carregadas de frutos e os pássaros voavam entre elas. Ao longe se estendiam viçosos arrozais, trigais e pastagens. Um riacho cintilante corria pelo campo, e um sol radioso iluminava todo o belo cenário.
Os dois filhos mais velhos então se pronunciaram, quase em coro:
“Oh! este quadro poderá ser vendido por um bom dinheiro!”
“Não!”, reagiu a mãe, “este quadro eu o fiz para mim. Não o venderia por dinheiro nenhum.”
Algumas amigas vizinhas, ao saberem do quadro pronto, vieram admirá-lo. Ela levou-o para fora da casa onde a claridade do dia permitiria ser melhor admirado.
De repente, o vento soprou muito forte, tão forte que arrancou o quadro das mãos da mulher. Todos viram o quadro de pano ser levado pelos ares através dos campos e sumir atrás da montanha.
Como a pobre mulher ficou desolada! Tanto sacrifício e acontecer uma coisa daquelas. O golpe sofrido foi tão rude que adoeceu, ficou de cama dias e dias. Então pediu ao filho mais velho: “Encontre meu quadro, por favor. Para mim aquele brocado é a própria vida!”.
O filho mais velho calçou as sandálias e rumou para o Leste, na direção do vento. Caminhou durante um mês até chegar a uma caverna, onde se deparou com um cavalo de pedra postado na entrada, a boca aberta como se quisesse comer os frutos vermelhos da árvore mais próxima.
“Deseja alguma coisa?”, perguntou-lhe uma velha que parecia ter saído do nada.
“Procuro o brocado de minha mãe”, o rapaz respondeu.
“As fadas da Montanha do Sol o roubaram”, ela informou. “Para encontrá-lo, arranque seus dentes e coloque-os na boca do cavalo de pedra. Depois de comer aqueles frutos, ele o levará até a Montanha do Sol, passando pela Montanha do Fogo e pelo Mar de Gelo. Mas, se você se encolher quando atravessar a Montanha do Fogo, as chamas o reduzirão a cinzas. Se tremer ao cruzar o Mar de Gelo, o frio o transformará numa estátua!”
Só de ouvir isso o rapaz já estava encolhido e trêmulo. Então a velha lhe entregou uma caixa cheia de moedas de ouro, dizendo-lhe: “Volte para casa”. Ele pegou a caixa, mas não voltou para casa, foi direto para a cidade, com a intenção de se divertir bastante.
Vendo que o filho mais velho não voltava, a mãe implorou ao segundo que fosse procurar o seu quadro. O segundo filho da viúva partiu e, como o primogênito, foi ter à caverna, encontrou a velha, apavorou-se com a idéia de enfrentar fogo e gelo, ganhou uma caixa cheia de moedas de ouro e foi se divertir na cidade.
Apesar de não querer deixar a mãe sozinha, pois ela estava muito fraca, largada na cama feito um trapo, o caçula também acabou partindo. Quando chegou à caverna, ouviu atentamente as instruções da velha e recusou a oferta da preciosa caixa de moedas.
“Obrigado, mas preciso encontrar o brocado maravilhoso de minha mãe”, falou.
Sem sombra de medo arrancou seus próprios dentes e os colocou na boca do cavalo, que imediatamente ganhou vida e comeu os frutos. Então o rapaz montou no cavalo e partiu.
A viagem foi longa e penosa. O rapaz não se encolheu diante das chamas da Montanha do Fogo, como tampouco tremeu ao cruzar o Mar de Gelo. Por fim subiu ao topo da Montanha do Sol, onde encontrou as fadas no salão de um lindo palácio, acabando de copiar a obra de sua mãe. “Quando terminarmos, devolveremos o brocado de sua mãe”, disseram-lhe. E deixaram o rapaz descansar. Ao anoitecer elas penduraram no teto uma pérola tão luminosa quanto o sol e concluíram o trabalho.
Ao amanhecer, com o brocado nas mãos, o moço saiu cavalgando a todo o galope. Atravessou o Mar de Gelo, transpôs a Montanha do Fogo e voltou a caverna. Ali a velha tirou os dentes da boca do cavalo e os recolocou na boca de seu legítimo dono, petrificando novamente o animal. Ofereceu sandálias mágicas ao rapaz, que foi transportado imediatamente à casa da mãe.
Assim que avistou sua cabana, chamou: “Mamãe, mamãe! Venha ver!”
A viúva estava na cama, frágil como um caniço, ainda viva graças aos cuidados das vizinhas. Criou alma nova ao ouvir o filho e saiu da cabana para ver seu quadro.
Quando desdobrou o brocado para contemplá-lo à luz do sol, uma brisa suave soprou, estendendo pelos ares o tecido maravilhoso até fazê-lo cobrir aldeias e campos a perder de vista. A humilde cabana desapareceu, e o cenário que a viúva tecera ao longo de três anos se tornou realidade, incluindo, porém, uma linda moça vestida de vermelho. “Sou uma fada da Montanha do Sol”, ela explicou. “Bordei minha imagem no seu brocado porque queria morar com vocês neste lugar maravilhoso”.
“Seja bem-vinda!”, mãe e filho exclamaram a uma só voz. Pouco depois o rapaz se casou com a fadinha e nunca mais a feliz família deixou o belo casarão.
Um dia dois mendigos se aproximaram da magnífica propriedade. Eram os filhos mais velhos que tinham gasto tolamente todo o dinheiro que ganharam. Identificando imediatamente a casa com a imagem tecida pela viúva, afastaram-se, envergonhados, e nunca mais foram vistos.
Autor: Conto Tibetano