quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Brâmane, o Tigre e o Chacal - Conto Indiano

Bordado por  Neuza Oli Veira

Era uma vez um sacerdote brâmane que vivia na Índia. Era bom de coração pois não suportava ver ninguém sofrendo: homem ou animal. Era estimado por todos. Andava por seu país com o objetivo de ajudar a quem precisava. Certo dia passou por uma região e viu um enorme tigre preso sobre uma arvore frondosa. Por ser feroz estava em uma jaula resistente e muito bem fechada. Só quem estivesse do lado de fora poderia abri-la.
-  Irmão Brâmane! Irmão!
O sacerdote parou, olhou para os lados e logo viu que o som vinha das proximidades da jaula do tigre. Era uma voz triste e queixosa.
-  Tenha piedade irmão! Piedade! Não deixe que eu fique preso nesta horrível jaula. Tenho muita sede e fome. Abra para que eu possa saciar minha sede. Aqui dentro está uma verdadeira fornalha. Tenha piedade de mim Irmão Brâmane!
O brâmane que sabia da ferocidade de um tigre lhe disse: - Ah! Irmão tigre! Você está preso porque é feroz e deseja matar as pessoas. E além do mais, saindo daí irá me comer, não é?
-  Eu não faria isso com você irmão brâmane! Não seria tão ingrato! Tenha piedade de um ser vivo que está morrendo de sede.
         O brâmane, sentindo muita pena do pobre tigre abriu a porta da jaula. E foi neste exato momento que o tigre, de um salto só pulou sobre ele dizendo: - A água fica para depois. Agora vou comê-lo todinho.
O brâmane gritou com o tigre lembrando do trato feito.
-  Eu não cumpro tratos. Estou faminto e vou comê-lo agora! E além do mais a minha natureza é esta: comer quando tenho fome!
E foi neste instante que o sacerdote brâmane lembrou de consultar outros seres que pudessem dar sua opinião e que estavam ali por perto. O tigre, sem alternativa, concordou, mas foi dizendo que se todos concordassem ele o comeria.
O tigre e o brâmane se dirigiram a uma figueira e perguntaram: - Ó figueira! Precisamos de sua opinião. Este tigre estava enjaulado. Tinha muita sede e pediu-me que abrisse a portinhola da jaula  para que ele saísse para tomar água. Prometeu que não me comeria. Mas agora.... a história é outra. Você acha correto?
A figueira paralisou o movimento de seus galhos e tristemente falou: - O homem sempre usa a minha sombra para fugir ao calor do sol, mas espalha as minhas folhas e pega meus frutos. Não cria laços. É ingrato. Minha opinião é que o tigre deve comê-lo sim!
O tigre muito alegre se dirigiu ao brâmane para comê-lo ali mesmo. O brâmane, entretanto, lembrou outros seres seriam consultados. Encontraram-se com um camelo.
- Irmão Camelo! Irmão Camelo, - disse o Brâmane, - gostaria de ter sua opinião! 
Contou a mesma história ao camelo.
- Ah! - disse o camelo - quando eu era jovem e trabalhava sem parar o meu amo me dava alimento e abrigo. Agora sou velho, não tenho mais a mesma energia. E ele continua a colocar cargas as mais pesadas sobre o meu pobre lombo, me bate e me deixa com fome!  O tigre deve comê-lo!
E o Brâmane mais uma vez lembrou do trato que haviam feito. Consultaria outros seres. Bem próximo encontraram um boi velho. Estava desanimado, deitado ao longo da estrada. O sacerdote brâmane se dirigiu a ele e perguntou contando-lhe toda a história.
O boi ouviu pacientemente a narração e disse: - Quando era jovem meu amo me alimentava, abrigava e eu era muito considerado. Mas agora sou velho e ele se esqueceu do que fiz por ele. Estou nesta estrada esperando a morte! Estou com o tigre. O brâmane deve ser devorado!
Mais adiante encontraram uma grande águia.
- Irmã Águia! Irmã Águia! Venha dar sua opinião! É sobre coisa séria.
A águia ouviu a história do brâmane e disse que os homens nem sempre foram leiais com ela, pois ao vê-la desejam capturá-la ou mesmo matá-la. Seus ninhos, nos altos dos rochedos são sempre violados. Roubam seus ovos e filhotes. Os homens são extremamente impiedosos. Sua opinião era de que o tigre deva comer o brâmane.
O tigre sabia que teria uma bela refeição. Sentiu que ali os animais tinham mágoa do homem. Restavam somente mais duas opiniões. Continuaram a caminhar até ás margens de um rio e encontraram um velho jacaré que estava se beneficiando com os raios quentes do sol. O brâmane contou-lhe novamente a história. A resposta dele mostrou que também tinha lá suas mágoas. - Não tenho sossego. Nunca matei homem algum, mas se coloco meu focinho para fora da água logo vem um humano querendo me machucar ou mesmo matar. Os homens não dão trégua. O tigre deve matar o brâmane.
O brâmane ainda lembrou ao tigre faminto que ainda restava uma última opinião. E continuaram a caminhar. Encontraram o chacal que andava por ali. O brâmane fez a mesma pergunta e o chacal foi logo perguntando: - Jaula? Que jaula? Não estou entendendo o que falam. Onde estava esta jaula, que tipo era? Grande? Pequena?
O brâmane contou toda a história desde o momento em que vira o tigre e lhe perguntou se achava justa esta atitude do tigre. - Meus amigos! Não posso dar nenhuma opinião se não conhecer bem o local onde tudo aconteceu. Preciso ver a jaula, como estava, como você chegou ao local e muitos outros detalhes. Vamos até lá.
E os três: o brâmane, o tigre e o chacal se dirigiram até a entrada da cidade para ver como tudo havia começado.
- A jaula é esta mesma, - perguntou o chacal?
- Sim, - responderam o tigre e o brâmane.
- E onde estava o amigo tigre? E onde estava você brâmane?
- Eu estava dentro da jaula? Quer ver? - E num salto rápido o tigre entrou novamente na jaula. O brâmane se colocou próximo dizendo que estava naquele mesmo pedaço de chão.
O chacal continuou suas indagações: - E você tigre porque não saiu sozinho? A porta estava aberta ou fechada? Ah, estava fechada e com o seu ferrolho torcido. - Fez com que o brâmane torcesse o ferrolho da jaula, estando o tigre lá dentro.
E assim o chacal resolveu a questão dizendo: - Você tigre deverá aprender a não ser malvado e ingrato. Como pode ter pensado em matar alguém que foi tão misericordioso com você? Agora fique aí dentro da jaula.
E o chacal continuou seu caminho, o brâmane alegre com a esperteza do chacal seguiu para outro lado e o tigre ficou onde estava – preso!

Recontado por Neuza Oli Vieira

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