sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A Montanha de Cristal - Agosto


A Montanha de Cristal
conto norueguês






Era uma vez um homem que tinha uma mata na montanha, mas não conseguia fazer uma reserva de feno porque cada ano, na noite de São João, toda a grama sumia misteriosamente, como se um rebanho inteiro tivesse passado por lá. Finalmente, o homem perdeu a paciência e mandou o mais velho dos seus três filhos passar a noite na choupana que ali tinha e vigiar.
O filho mais velho jurou que ia vigiar tão bem que nem homem nem demônio conseguiriam roubar a grama! Deitou no chão da choupana e logo adormeceu. De repente, a meia-noite, poderosos estrondos fizeram tremer chão, paredes e teto. O moço ficou tão apavorado que saiu correndo, sem olhar para trás. E, na manhã seguinte, toda a grama tinha sumido, como sempre. No ano seguinte, o homem mandou o filho do meio. E aconteceu tudo novamente.
Quando chegou mais uma vez a noite de São João, mandaram o filho mais novo, Askeladden, que só sabia ficar deitado nas cinzas da lareira e sonhar. Os irmãos caçoaram dele:
- Logo você que não sabe fazer nada vai tomar conta da mata!
Mas ele não se importou com o que disseram e foi. Quando começou o barulho, ele pensou: “Se não piorar, acho que dá para aguentar.” Assim que tudo ficou calmo, ele saiu da choupana e deparou com o cavalo mais belo que jamais tinha visto, um alazão arreado de cobre reluzente, carregando uma armadura de cavalheiro feita de cobre também. Estava pastando com vontade. O moço se aproximou, falou-lhe ao ouvido até o cavalo o deixar montar nas suas costas. Askeladden o levou então até uma pradaria escondida nas montanhas, um lugar especial que só ele conhecia e onde o deixou.
Em casa foi acolhido com zombaria, mas disse com tranquilidade:
- Dormi até o sol nascer. Não escutei nada e não faço a mínima idéia do que pode ter amedrontado vocês.
Os irmãos se apressaram a subir na montanha mas, ao chagar na mata, ficaram espantados: a grama estava densa e alta como devia estar. Não entenderam nada. No ano seguinte, recusaram-se a ficar lá. Apenas Askeladden aceitou passar outra noite de São João na montanha. Aconteceu tudo de novo, só que os estrondos ficaram duas vezes mais poderosos. E quando tudo se acalmou, Askeladden avistou um cavalo mais belo ainda que o alazão, um baio arreado de prata, carregando uma armadura de prata rutilante. De novo, Askeladden conseguiu que o cavalo o deixasse montar e o levou para seu lugar secreto.
Na noite de São João seguinte, depois de ouvir estrondos mais poderosos ainda, quando tudo ficou calmo, Askeladden levou um maravilhoso cavalo negro, arreado de ouro e carregando uma armadura de ouro resplandecente, para o mesmo lugar.
Naquele ano, um edito real foi proclamado em todo o reino. O rei tinha uma filha, famosa pela sua beleza, e queria casá-la. Mas ela estava sentada com três maçãs de ouro no alto da Montanha de Cristal, cujas paredes verticais eram absolutamente lisas. Ao cavaleiro que buscasse as três maçãs de ouro, o rei prometia a sua filha em casamento assim como a metade de seu reino.
No dia marcado, uma multidão se reuniu ao pé da montanha pra ver o espetáculo. Príncipes e cavalheiros brilhantemente vestidos e montados tinham chegado de longe para tentar a sua sorte. Os irmãos de Askeladden também foram ver, mas se recusaram a levá-lo:
- Você é tão feio e sujo que todos vão rir de sua cara.
- Não tem problema, não estava a fim de ir mesmo.
Quando os cavaleiros começaram a subir na montanha, os cascos de seus cavalos escorregaram na parede que parecia um espelho. Tentaram horas a fio. Por fim todos estavam exaustos, os animais espumando e cobertos de suor, e nenhum tinham conseguido subir nem um metro.
O rei já ia dar ordem de interromper as tentativas, que seriam retomadas no dia seguinte, quando apareceu um cavalheiro vestindo uma armadura de bronze reluzente, montado num magnífico alazão arreado de bronze. Sem hesitar, aproximou-se da parede e começou a subir. Chegou até um terço da montanha e parou. A princesa olhou para ele, gostou do que viu e desejou que viesse até ela. Lançou-lhe uma maçã de ouro. Ele a pegou, mas fez seu cavalo dar meia-volta e foi embora, galopando tão rápido que ninguém pôde segurá-lo.
Os irmãos de Askeladden chegaram em casa excitadíssimos, falando daquele cavalheiro desconhecido.
- Bem que eu queria ver este cavaleiro.
- Pode esquecer! Fique aí na sua lareira. Nós é que vamos amanhã.
Os cavaleiros tinham trocado as ferraduras de seus cavalos e recomeçaram as suas tentativas. Em vão. Então chegou um cavalheiro vestido com uma armadura de prata rutilante, montado num magnífico baio arreado de prata. Sem hesitar, começou a subir a parede lisa e chegou até dois terços da montanha. A princesa lhe jogou outra maçã de ouro. Ele a pegou... e foi embora, galopando como o vento.
No dia seguinte, todos esperavam a chegada do cavalheiro de prata. Mas chegou um cavalheiro vestido com uma armadura de ouro resplandecente que brilhava como o sol, montado num majestoso cavalo preto arreado de ouro. Todos o acompanharam com o olhar. Viram-no alcançar o topo da montanha, pegar a terceira maçã de ouro, sentar a princesa radiante na sua frente e dar-lhe um beijo. O rei esperava ansioso para descobrir quem era o pretendente vitorioso. Mas o cavalheiro apenas entregou a princesa ao seu pai e foi embora, galopando mais rápido que o vento.
O rei mandou convocar o homem que possuía a terceira maçã de ouro ao palácio. Ninguém se apresentou.
Ordenou então que todos os homens do reino se apresentassem diante dele. Os irmãos de Askeladden foram os últimos a chegar. Disse o rei:
- Deve haver mais alguém! Nós vimos um cavalheiro pegar a maçã de ouro!
- Majestade, temos mais um irmão em casa, mas com certeza não é ele.
- Que venha aqui!
Quando Askeladden chegou, vestindo seu casaco sujo de cinzas, o rei lhe perguntou:
- Está com a terceira maçã de ouro?
- Aqui está.
Askeladden tirou do bolso todas as três maçãs. E o casaco caiu por terra, revelando o cavalheiro resplandecente na sua armadura de ouro.
O casamento de Askeladden com a princesa foi celebrado no mesmo dia. Todos foram convidados.
E foi uma bela festa porque não precisa saber subir numa montanha de cristal para saber comer, beber, divertir-se e festejar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário