O Pequeno Polegar
Perrault
Uma família de camponeses muito pobres vivia com seus
sete filhos, ainda pequenos, num povoado próximo a uma grande floresta. Naquele
tempo esta região e toda a Europa passavam por dificuldades e a fome era
grande. Não havia como obter alimento em lugar algum. Mas apesar de tudo as
crianças eram saudáveis. O mais novo deles, de tão pequeno, ficou com o nome de
Pequeno Polegar. Era esperto, sabido e tudo observava a seu redor.
O pai das crianças começou a pensar em deixar as
crianças na floresta porque não havia comida suficiente em casa. A mãe ficou
desesperada, mas acabou aceitando porque não tinha outra solução. Decidiram não
contar nada para os filhos e ir na floresta no dia seguinte com a desculpa de
buscar lenha. Pequeno Polegar, que tinha escutado toda a conversa escondido,
saiu de mansinho e foi buscar umas pedrinhas brancas nas areias da margem do
rio.
Saíram cedo pela manhã. Andaram muito e pegaram os
gravetos que precisavam. E, aos poucos, os pais foram se afastando sem que as
crianças notassem. Quando os pequenos notaram sua ausência, já era tarde. Não
sabiam como voltar. Começaram a chorar. Mas Pequeno Polegar acalmou os irmãos e
os levou para casa, seguindo as pedrinhas que, na vinda, havia deixado cair
pelo caminho.
Quando chegaram os pais os abraçaram chorando de
felicidade. E, naquele dia, o pai recebeu um dinheiro e puderam jantaram até se
saciar. Mas a fome voltou tempos depois. De novo, os pais falaram em deixar os
filhos na floresta. Pequeno Polegar, ouvindo a conversa, quis correr para
fora... e encontrou a porta trancada. No dia seguinte, aconteceu igual da outra
vez. Pequeno Polegar tinha um pedaço de pão no bolso e espalhou migalhas para
marcar o caminho. De novo o pai deixou os filhos sozinhos no meio da floresta.
Mas quando Pequeno Polegar quis voltar, seguindo as migalhas de pão, viu que os
passarinhos tinham comido tudo.
A noite chegou e as crianças, assustadas e famintas, sentiram-se
muito sós. Pequeno Polegar subiu em uma grande arvore e gritou ter visto um
castelo iluminado. Seguiram alegremente para onde estava a luz. Só que eles não
sabiam que ali morava um gigante enorme e feroz, na verdade um ogro. Bateram à
porta e uma mulher veio atender. Sentiu pena daquelas crianças desprotegidas e
sozinhas. Deixou-as entrar sabendo do risco que elas corriam: o gigante gostava
de comer criancinhas! Acolheu as crianças, alimentou-as e escondeu todos em
lugar bem seguro.
O gigante chegou em casa faminto e cansado.
Imediatamente sentiu cheiro de carne humana! Procurou, encontrou, e as estava
ajeitando para comer quando a mulher sugeriu que deixasse as crianças
engordarem um pouco. Estavam muito magrinhas. O gigante concordou e disse:
- Prepare um jantar para estes garotos, pois você sabe
que gosto de crianças bem gordinhas!
Após o jantar o gigante ordenou que os meninos fossem
dormir na cama ao lado de suas queridas filhas. Ele tinha sete meninas ainda
pequenas que amava muito e tratava como princesas. Exigia até que usassem coroinhas
de ouro.
Pequeno Polegar era muito esperto. E logo que todos
estavam dormindo ele fez uma troca. Tirou os gorrinhos de lã dele e dos irmãos,
trocando pelas coroinhas das meninas. Na
verdade o gigante queria mesmo comer Pequeno Polegar e seus irmãos naquela
mesma noite, sem piedade! Pegou um facão e foi para o quarto. Estava tudo um
escuro só e ele foi apalpando as cabeças para encontrar os meninos. Passou a
mão pelas cabeças das filhas e achou os gorrinhos. E, com o facão, degolou as
meninas. Assim que o ogro foi dormir, Pequeno Polegar acordou os irmãos e
fugiram bem depressa.
Quando o gigante percebeu o que tinha feito, calçou suas botas de sete léguas e saiu
furioso em busca dos meninos. Correu muito, subiu e desceu montanhas,
atravessou rios, olhou atrás das moitas... e nada. Mas as crianças o viram
chegar e se esconderam numa rocha oca.
De tanto correr, o gigante tinha ficado exaurido, sem
forças. Resolveu deitar e dar um cochilo logo na rocha onde estavam os meninos!
Começou a roncar fazendo um barulho ensurdecedor. Foi aí que Pequeno Polegar
saiu do esconderijo e se aproximou do gigante. Viu que as botas dele tinham
algo diferente. Tirou-as e as calçou – e não é que as botas eram encantadas!
Elas se ajustaram perfeitamente ao seu
tamanho. Pequeno Polegar já tinha pensado em um plano. Correu e num instante
estava na casa do ogro. Chamou a mulher e falou assim:
- Depressa! Seu marido foi aprisionado por um bando de
malfeitores e querem em troca ouro, jóias e pedras preciosas. O gigante me
mandou buscar o que está escondido aqui. Ele até me emprestou suas botas para
chegar bem rápido, antes que ele morra!
A mulher aflita entregou ao menino tudo o que possuía
de mais valioso. E assim Pequeno Polegar voltou
para sua casa, acompanhado de seus irmãos e carregado de muita riqueza.
Os pais os receberam com grande alegria e disseram:
- A floresta devolveu nossos filhos com uma
fortuna!
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