terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A ÁRVORE DA VIDA E DA MORTE

Bordado por: Vani Luiza Cipriano

Esta árvore ficava no centro da aldeia.  Dava uma sombra fresca deliciosa quando o sol ardia.
Mas, sobretudo, estava carregado de frutas singulares. Brilhosas, redondas, suculentas, deixavam escapar um caldo que lembrava mel. As mãos se estendiam espontaneamente para pegá-las. Mas, imediatamente, o gesto do adulto se interrompia, a mãe ou o pai batiam forte na mão da criança...
- Nunca, nunca mais estenderá a mão para estas frutas magníficas, nunca!
Homens e crianças buscavam a sombra da grande árvore, mas nenhuma mão colhia as frutas maravilhosas.
Com efeito, os homens sabiam, e não sabiam. A árvore tinha dois galhos mestres absolutamente idênticos. Destes dois galhos surgiam ramagens abundantes absolutamente idênticas. Estas ramagens estavam carregadas de frutas magníficas absolutamente idênticas. Mas os homens sabiam. Sabiam que um destes galhos estava carregado de frutas da vida bem doces, mais saborosas do que se podia imaginar... Sabiam que o outro galho absolutamente idêntico estava carregado de frutas da morte cheias de veneno, mais venenosas do que se podia imaginar... Sabiam aquilo. Mas não sabiam qual galho dava frutas da vida, qual galho dava frutas da morte.
Na mesma árvore, dois galhos absolutamente idênticos. Na mesma árvore, frutas da vida e frutas da morte.
Nenhuma mão colhia as frutas absolutamente idênticas, jamais, desde seus pais, desde os pais de seus pais.
Eis que um ano veio a seca, impiedosa. Os homens procuravam a sombra debaixo da árvore da vida e da morte, mas ninguém estendia a mão para as frutas magníficas. Nos campos os rebentos secavam na terra rachada. Não havia frutas nem grãos para guardar nos celeiros. Com a seca veio a fome, implacável. Os homens tremiam de fome e de calor, tremiam debaixo da árvore da vida e da morte. Mãos esqueléticas se estendiam para as frutas, quase tocando nelas às vezes... Mas o movimento era sempre interrompido.
As mulheres e os homens, os velhos e as crianças, todos estavam morrendo de morte lenta debaixo da árvore com os dois galhos absolutamente idênticos. Todos estavam agachados ou deitados, todos mortos-vivos. Lentamente a vida se apagava dentro de cada um, debaixo da árvore com as frutas absolutamente idênticas.
Então um homem se levantou e falou:
- Irmãos, agora mesmo estarei morto ou vivo. Irmãos, amanhã vocês todos estarão vivos. Irmãos, agora mesmo estarei morto ou vivo, terei provado a fruta de um dos galhos mestres. Estarei morto ou vivo mas vocês, irmãos, saberão e lembrarão para sempre qual destes dois galhos mestres está carregado de frutas da vida, qual está carregado de frutas da morte.
Sem tremer, o homem estendeu a mão, colheu uma fruta num dos galhos mestres, levou-a até sua boca e, sem pestanejar, comeu-a. Todos olhavam para ele sem falar uma palavra. O sumo escorreu dentro de sua garganta como mel, a polpa nutriu seu corpo melhor do que o nutriria qualquer grão moído. Era a fruta da vida.
Agora os homens sabiam, agora os homens podiam olhar para os dois galhos mestres absolutamente idênticos e dizer sem temor:
- É esta que está carregada de vida, aquela está carregada de morte.
As mulheres e os homens, os velhos e as crianças, todos se levantaram e estenderam a mão para as frutas da vida. Todos mataram a sede com o sumo delicioso como mel, todos se nutriram da polpa mais nutritiva do que qualquer grão moído. Todos se fartaram das frutas da vida. Todos acharam vida nova debaixo da árvore com os dois galhos absolutamente idênticos.
- Mas – disse um –, como guardaremos para sempre na memória estes dois galhos absolutamente idênticos? Qual estará sempre carregado das frutas da vida, qual estará sempre carregado das frutas da morte? Como faremos?
- Vamos cortar, arrancar, serrar – disse um. – Vamos separar os dois galhos absolutamente idênticos, isolar para sempre aquele que está sempre carregado das frutas da morte, aquele que está sempre carregado das frutas da vida.
- Vamos cortar, arrancar, serrar – disseram mulheres e homens, velhos e crianças. – Vamos separar os dois galhos absolutamente idênticos, isolar para sempre aquele que está sempre carregado das frutas da morte, aquele que está sempre carregado das frutas da vida.
Na alegria reencontrada, com a boca e a barriga saciada de suco igual ao mel e de polpa mais nutritiva do que qualquer grão moído, com cantos, danças e risos, os homens serraram o galho mau, jogaram por terra o galho que estava carregado de frutas da morte.
Deixaram a árvore com os dois galhos mestres finalmente separados; um deles, carregado de frutas da morte, por terra; o outro na árvore, carregado de frutas da vida. Saciados e contentes, todos foram deitar...
Na manhã seguinte, a árvore estava morta.


Conto francês da tradição oral

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